Fidel e a Presidente da Argentina, Cristina Kriscner
Fidel Castro referiu-se ontem pela primeira vez à sua morte iminente, escrevendo que nenhum elemento do “Partido e do Estado” se deve “sentir obrigado pelas minhas eventuais reflexões, pela minha doença ou morte”.
Num comentário à tomada de posse de Barack Obama, Fidel dedica três dos sete parágrafos do texto a considerações que indiciam o seu fim próximo. “Reduzi as Reflexões como decidira, a fim de não interferir nem estorvar os companheiros do Partido e do Estado nas decisões constantes que devem tomar face às dificuldades objectivas resultantes da crise económica mundial. Eu estou bem, mas insisto que nenhum deles se deve sentir obrigado pelas minhas eventuais reflexões, pelo agravamento do meu estado de saúde ou a minha morte”, refere ao introduzir este tema, após algumas considerações sobre Obama.
O texto, anunciado na primeira página do órgão do PC cubano, Granma, e reproduzido na página dois do jornal, prossegue em mais dois parágrafos em que se torna claro o anúncio aos cubanos da sua morte.”Estou a rever os discursos e textos que elaborei ao longo de mais de meio século. (…) Continuo a estar informado e medito tranquilamente sobre os acontecimentos. Espero não desfrutar deste privilégio dentro de quatro anos, quando terminar o primeiro mandato presidencial de Obama” – é neste tom que Fidel termina as suas reflexões.
Desde que o antigo presidente cubano abandonou o poder, em Julho de 2006, para ser submetido a uma intervenção cirúrgica, não voltou a ser visto em público. Apenas são divulgadas fotografias suas, em regra na presença de dirigentes estrangeiros, como sucedeu ontem em que Fidel é mostrado ao lado de Cristina Kirchner, imagem não divulgada em Cuba.
O texto de Fidel principia com considerações sobre o “11.º presidente dos EUA desde o triunfo da Revolução Cubana, em Janeiro de 1959”. Para Fidel, Obama possui “um rosto inteligente e nobre”, que passou já diversas provas. O antigo líder cubano duvida, contudo, que o novo Presidente americano seja capaz de “superar as insolúveis contradições antagónicas do sistema”, expressão com que pretende caracterizar em tom negativo o sistema político-económico dos EUA.
Antes de abordar a sua situação pessoal, Fidel conclui as considerações sobre Obama, escrevendo que, “sob inspiração de Abraham Lincoln e Martin Luther King”, o novo Presidente soube tornar-se um “símbolo vivo do sonho americano”.