Destino ligado a Tagmé Na Wae?
O presidente da Guiné Bissau, João Bernardo Vieira, foi morto nesta segunda-feira por efectivos militares na sua residência em Bissau, capital do país.
O assassinato aconteceu algumas horas depois da morte do chefe do Estado-Maior do Exército e crítico do governo de Vieira , general Batista Tagme Na Wai, que foi morto num ataque na noite de domingo que também destruiu parte do quartel-general das Forças Armadas.
Vieira é um antigo combatente da luta armada de libertação da Guiné-Bissau que governou o país até ser deposto numa guerra civil no final década de 1990, retornando ao poder numa eleição em 2005.
O presidente vinha entrando em choque com o general Na Wai.
Foi assassinado quando tentava sair de casa, cercada por soldados do Exército.
“A morte do chefe de Estado João Bernardo Vieira está confirmada. A sua mulher está na embaixada angolana”, disse à agência Reuters Sandji Fati, um coronel aposentado do Exército.
Fati acrescentou que Nino Vieira recusou-se a deixar a sua residência quando diplomatas da embaixada angolana foram apanhá-lo e à sua mulher para um local seguroti.
Uma fonte de segurança disse que soldados da etnia balante, a mesma de Tagme Na Wai, lideraram o ataque a Vieira, e saquearam sua casa.
Tagme sempre disse que o seu destino e o do presidente estavam ligados. E que, se ele morresse, o presidente também morreria, disse a fonte.
Tiroteios e explosões ressoaram na cidade de Bissau nas primeiras horas desta segunda-feira e a maior parte dos moradores ficou em casa, e não estava claro quem controlaria o país.
O atentado que causou a morte na noite de domingo do general Na Wai foi realizado com uma bomba colocada na sede do Estado-Maior do Exército, que também causou cinco feridos, entre eles dois graves, ao mesmo tempo em que derrubou parte do prédio.
Após o atentado, altos comandos militares ordenaram que as emissoras de rádio privadas da capital interrompessem as suas transmissões e a televisão pública também ficou fora do ar.
“Para a segurança dos jornalistas, deve-se fechar a emissora e deixar de transmitir”, afirmou o porta-voz militar aos funcionários de uma das rádios.
O general Na Wai fez parte de um grupo golpista que derrubou o governo de Nino Vieira na década de 1990. Após um tempo exilado, Vieira foi eleito para o cargo novamente em 2005. Desde então, o general Na Wai mostrou-se bastante crítico em relação ao presidente. Denunciou em janeiro um atentado frustrado do qual responsabilizou membros da guarda do presidente, que disse que abriram fogo durante a passagem de seu veículo diante do Palácio Presidencial.
Em 23 de novembro de 2008 um grupo de militares atacou à noite a residência do presidente Vieira, deixando um saldo de dois mortos.
A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo e, desde que obteve a independência de Portugal em 1974, sofreu vários golpes de Estado.
Nos últimos anos, a Guiné-Bissau transformou-se num centro da rota do tráfico de cocaína da América do Sul para a Europa e altos cargos do governo e chefes militares foram acusados de participar neste negócio ilegal.
Nino Vieira: perfil
Destino ligado a Tagmé Na Wai?
Nino-Vieira foi um dos rostos da implementação da democracia na Guiné-Bissau tendo sido o primeiro Presidente da Guiné-Bissau democraticamente eleito.
João Bernardo Vieira, mais conhecido por Nino Vieira, nasceu em Bissau a 27 de Abril de 1939.
Eletricista de formação, Nino Vieira filiou-se em 1960 ao Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), de Amílcar Cabral, e rapidamente tornou-se numa peça-chave da guerrilha do país contra o regime colonialista português.
Durante a guerra demonstrou uma grande habilidade como líder militar e rapidamente subiu na cadeia de comando. Em 1972 ocupou o cargo de Presidente da Assembleia Nacional Popular.
Em 1978 foi nomeado primeiro-ministro da Guiné-Bissau.
Dois anos depois Nino Vieira participou num golpe militar que derrubou o Governo de Luis Cabral. Desvinculou-se do PAIGC e formou o Conselho Militar da Revolução, por ele liderado. Em 1984 foi aprovado uma nova constituição que repôs o regime civil na Guiné-Bissau.
Nos início anos 90, a Guiné-Bissau acabou com a proibição da formação de partidos políticos e realizou as primeiras eleições em 1994. Nino Vieira ganhou as eleições e tornou-se o primeiro presidente democraticamente eleito da Guiné-Bissau (29 de Setembro de 1994).
Em Junho de 1998, uma tentativa fracassada de golpe de estado contra o governo de Nino Vieira provocou uma guerra civil entre as suas forças e a de um grupo rebelde comandado por Ansumane Mané.
A 7 de Maio de 1999, os rebeldes liderados por Mané depõem Nino Vieira que é obrigado a refugiar-se em Portugal.
Depois de outro golpe militar derrubar o presidente Kumba Yalá em 2005, Nino Vieira regressou a Bissau e candidatou-se às eleições presidênciais de 2005. Na primeira volta das eleições fica em segundo lugar, tendo ganho a segunda volta com quase 53 por cento dos votos. Toma posse como presidente em Outubro desse ano.
Em 28 de outubro de 2005, Nino Vieira anunciou a dissolução do governo chefiado pelo Primeiro-Ministro Carlos Gomes Junior, alegando a necessidade de manter a estabilidade no país.
A 2 de Março de 2009 é assassinado na sua casa por militares das Forças Armadas da Guiné-Bissau.