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Zeca Tcheco: 42 anos de engenho e arte e a “confusão agradável” em que se encontra a música moçambicana

Posted in Música Moçambicana, Moçambique, Radiodifusão, Word Music with tags , , on 6 de Abril de 2011 by gm54

 

Zeca Tcheco no Estúdio Auditório da Rádio Moçambique em mais um ensaio com o Grpo RM

Por Francisco Manjate

Nasceu há 60 anos e é um dos exímios bateristas que Moçambique produziu. O seu nome há muito que está guindado nos anais da “pauta musical”: Zeca Tcheco! Com 42 anos de carreira, tem um percurso musical de causar inveja. Com as suas baquetas já tocou quase todos os ritmos. Da marrabenta ao jazz, passando pelo rock, afro, bossa nova, samba, rumba. Até fado ele tocou. Nesta entrevista, o baterista faz uma viagem pelo tempo, fala das suas paixões musicais, das amizades e traça um olhar crítico sobre a nossa música, afirmando mesmo que ela, neste momento, encontra-se numa “confusão agradável”. Enfim, um homem maduro e artista experiente, Zeca Tcheco – um dos membros fundadores do conceituado Grupo RM – fala da vida e dos homens.

– Que desafios ainda existem para um artista que já conta com 60 anos de vida e 42 de carreira?

– Os desafios são, naturalmente, muitos. Até porque nós morremos a aprender. Depois, existem projectos que são de longo prazo e ficamos à espera de uma oportunidade para realizá-los. Mas é gratificante quando olhamos para trás e vemos que, ao longo do nosso percurso, fizemos coisas boas…

– Agora, qual é a sua luta?

– A minha luta é, se calhar, numa direcção contrária a de muitos, porque há quem diga que, na arena musical, o maior sonho de um músico é gravar um disco musical. Essa é a ambição de alguns músicos. Mas nem todo o músico é compositor e nem todo o compositor é cantor, por isso, como compositor, faço música e depois vejo a voz que se adapta àquilo que pretendo e vou buscar esse músico para cantar o que fiz. Já fui ter com Mingas, a Zulfa já cantou as minhas músicas, tal como aconteceu também com José Barata. Agora, um álbum meu seria, por exemplo, a selecção dos músicos que dei as minhas canções para cantarem.

– Portanto, assume-se puramente um instrumentista, para lá de outras particularidades?

– Sim, eu não sou cantor e nem quero fazer experiências desse género, embora não saibamos o que poderá acontecer amanhã. Quero sempre, isso sim, fazer música e nos moldes nos quais trabalhei que é ir buscar os músicos que acho que podem cantar muito bem as minhas canções e dar-lhes para fazerem isso.

– Mas muitos ainda não conseguem destrinçar uma coisa da outra.

– O que eu critico é essa falta de clareza. É preciso saber que há compositores que não são cantores e não há vergonha nisso, embora hajam compositores cantores. Por exemplo, a Whitney Houston ou o Michael Jackson e ainda tantas outras lendas da música no mundo cantaram músicas que não foram feitas por eles. Eles têm os seus compositores que fazem as canções e lhes dão para interpretarem. Porque é que um bom cantor não vai procurar um bom compositor ou um bom compositor não procurar um bom cantor.

– Assim forma-se uma equipa multifacetada e mais completa.

– É sim. É como na construção civil onde temos várias equipas de especialistas a trabalharem na mesma obra, há engenheiros de construção civil, de decoração, arquitectos, portanto, um conjunto de pessoas que está ali para pôr o edifício belo, cada qual na sua área, mas a fazerem um trabalho único. Esse é o apelo que faço aos jovens. É bom saberem acasalar todas essas sensibilidades: compositores, cantores, instrumentistas e arranjistas. É que sozinho não é possível fazer tudo isso e ainda querer ser produtor.

– Mas, aos 60 anos de idade, e com 42 anos de carreira, quais são ainda os seus sonhos?

– O que eu gostaria era realizar um grande festival musical, numa dimensão que a mantenho em segredo – porque não quero anunciar isso e depois apropriarem-se das minhas ideias e fazerem de uma forma muito errada e contrária ao que defini. Gostaria também que o Grupo RM tivesse um disco, como Grupo RM. Veja que desde 1979 nós não temos um disco como banda. Participamos no Projecto Orquestra Marrabenta, que basicamente era composto pelo Grupo RM, gravamos um álbum, mas teve o nome de Orquestra Marrabenta. Paris, França, fomos gravar o disco “Baila Maria”, que ficou registado como da banda Moya. Mas esse grupo era formado basicamente pelos elementos do Grupo RM.

– Até porque esses são sonhos realizáveis…

– Penso que sim. Até porque já estamos no fim da gravação de uma série de temas que poderão vir a compor esse projecto de disco. Mas, enquanto nós avançamos com a nossa parte, deparamos com a questão financeira, pois conseguimos gravar porque temos os estúdios da Rádio Moçambique, mas a edição do disco exige fundos. E quando vai aparecer o dinheiro é o que não sabemos. E enquanto não atingir esse objectivo não ficarei satisfeito.

– Quando é que estará concluído pelo menos a parte que vos cabe?

– No geral, nós continuaremos a lutar para que o projecto esteja concluído e o disco seja lançado ainda este ano. O desejável até seria que fosse em Outubro, que é o mês da Rádio Moçambique. Se isso não acontecer teremos que continuar à espera de uma oportunidade financeira qualquer.

– Até porque a ser lançado o disco do Grupo RM, seria um grande brinde para si.

– É verdade, seria um grande brinde. Mas tudo é possível, desde que haja força de vontade, não só minha e dos meus colegas, mas de todos que estão envolvidos no projecto.

Grupo RM actuando em Estoril, Portugal, em 1981

MÚSICA MOÇAMBICANA: UMA “CONFUSÃO AGRADÁVEL”

– Aos 60 anos de idade e com 42 anos de carreira, que olhar tem sobre a música moçambicana?

– Neste momento, essa é minha opinião, há uma “confusão agradável” na música moçambicana, porque estamos numa fase em que temos muitos jovens a fazerem música, alguns dos quais optaram por produzir ritmos como pandza, hip-hop, rap. Por outro lado, há outros jovens que se agarraram à música de raiz. Temos exemplos dos Timbila Muzimba, que fazem música tradicional, a banda Kakana, Djaaka e ou Massukos. Isso para mim é muito bom porque mesmo o pandza tem muito a ver com marrabenta, ela tem uma base muito forte de marrabenta. Portanto, esses jovens que fazem isso não estão muito longe daquilo que é nosso. A música tem várias frentes e isso é muito bom.

– Aliás, temos o exemplo de Denny OG, o seu filho, que está na música, mas não seguiu exactamente a sua perspectiva.

– Sim, o meu filho tem a sua perspectiva. Ele fazia rap e depois saltou para o pandza. É como outros da idade dele que faziam “play-back”, mas hoje vemos que há uma preocupação de quererem trabalhar com bandas. Isso representa uma evolução. A música é como a língua, ela não é estática, daí que não podemos continuar a tocar da mesma maneira a marrabenta tal como tocavam os conjuntos João Domingos ou Djambo. O mais importante é manter isso como nossa grande referência. Eu também que apareci depois do Djambo e sempre procurei mostrar algo diferente. É o que esses jovens estão a fazer.

– Mas, critica-se muito o facto de só recorrerem aos computadores. Tudo muito sintético?

– Sim. Eu também não sou a favor disso. Nunca fui e jamais serei. Quando a música é tocada nos computadores deturpa a essência, vai contra o original. Mas já com banda temos espectáculo e isso é bom, é diferente. O computador mantém a música estática, fica tudo na mesma, enquanto que com banda há uma evolução, pois obriga os instrumentistas a viajarem e a investigarem constantemente.

– E qual é a dica que deixa?

– O que a malta jovem tem que saber é que a música é algo muito séria. É preciso ter sempre exercícios melódicos, exercitar a voz e o canto, as cordas vocais. É como alguém que vai correr e hoje faz 50 metros, mas amanhã vai fazer mais., portanto, evolui. Não basta dormir e acordar dizer que vai fazer música. Isso é um trabalho muito sério.

– Estaremos então no bom caminho?

– A música moçambicana não está tão mal como se pode pensar. Eu penso que o caminho que estamos a trilhar é salutar. Hoje já temos muitos bons compositores, bons instrumentistas e bons músicos, sobretudo cantoras. Há muitas mulheres que cantam muito bem. Acho que elas ganharam coragem e estão a fazer coisas maravilhosas, estão a pesquisar a música e a aprofundar os seus conhecimentos, o que demonstra que elas são capazes.

JAIMITO MALHATINE: UMA ESCOLA!

– Fale de Jaimito Malhatine, essa figura lendária.

– Falar de Jaimito na música é o mesmo que falar de mim ou mesmo de um Pedro Cumaio, porque essas três pessoas foram família na arena musical. Eu cresci na música a trabalhar com essas duas pessoas. E mais tarde o Abel Chemane. Eu aprendi tanta coisa na música com Jaimito e Pedro Cumaio. Estávamos sempre juntos a ouvir música, a ensaiar. Passeávamos sempre juntos.

– Onde ensaiavam?

– Tínhamos um espaço chamado Escola do Acordeão, onde no princípio alugavam-se os estúdios, mas como frequentávamos e ensaiávamos ali chegou uma altura que deixaram de nos cobrar, numa altura em que não era fácil isso. Mesmo quando essa escola passou para onde hoje funciona a messe da Polícia, continuamos a ter acesso aos estúdios…

– É daí que nasce o trio “Experiência”?

– Nós formamos o trio “Experiência” e tocamos juntos durante muitos anos. E até nos separarmos continuamos sempre amigos, porque havia uma grande amizade.

– O que sente quando vês hoje o Jaimito desamparado?

– É muito doloroso e frustrante para mim, não. Não imaginas ver um irmão com quem convivi naquela situação. É doloroso, é chato. Para mim é como se ele estivesse morto porque está inútil. Não faz nada senão aquilo que escreve (em pedaços de papeis em frente a Rádio Moçambique) e cada um interpreta como acha. O que me interessa não é que ele escreva coisas com sentido, mas é ele voltar a ser o que era. Eu fico muito magoado com tudo isso. E se pudéssemos voltar a termos o homem e o grande guitarrista, para que possamos trabalhar como antigamente, embora essa seja como que uma hipótese quase remota. Talvez algum dia alguém o pegue para ser recuperado, pois eu não tenho forças para fazer isso. O que posso fazer é só lamentar.

– E há muita coisa que ele fez e deixou como legado.

– As composições de Jaimito são únicas. Há muita coisa de Jaimito, embora só se conheça o tema instrumental “Magica”. Ele fez muitos temas que foram cantados por Wazimbo e Pedro Ben.

– Tocou com muitos músicos. Isso o ajudou a crescer musicalmente.

– Sim, porque antes de eu, Jaimito e Pedro Cumaio formarmos o “Experiência” tinha o “Soul Band” e quando se desfez o grupo comecei a tocar nos cabarés. Nessa altura não tinha banda, era um músico independente. De dia ensaiava para ir tocar a noite, sempre com grupos diferentes. Toquei tango, pachanga, que é um ritmo de que já não se fala, merengue, bossa nova, samba e até fado que muitas vezes não levava bateria. Isso só me favoreceu porque quando comecei a tocar marrabenta baseei-me naqueles ritmos que já tocava há muito tempo, o que fez com que eu volta à marrabenta. Alguns até diziam que o que eu tocava não era marrabenta, mas insisti e depois a moda pegou. Isso foi produto dessa vida musical que tive, ouvindo muita música e a tocar muito vários ritmos.

UMA PASSAGEM PELO CASINO ESTORIL

Estada em Portugal. Zeca com José Mucavele e Milagre Langa

– Esteve em Portugal, onde tocou no Casino Estoril. Como foi isso?

– Esse projecto nos foi arranjado na altura pelo secretário de Estado da Cultura, Luís Bernardo Honwana, onde fui com Alípio Cruz, Chico António, José Guimarães, José Mucavele, Sox, Izildo Gomes e Milagre Langa. Depois de termos tocado lá e no fim do contrato fiquei mais um tempo a tocar num cabaret lá em Portugal, numa banda onde o líder era brasileiro.

– O que tocavam?

– Ele como brasileiro gostava de tocar ritmos brasileiros. E, o mais engraçado é que eu tinha um domínio sobre esses ritmos e às vezes ele perguntava se eu estivera no Brasil e como aprendi a tocar tudo aquilo. Eu expliquei que foi em Moçambique. Quer dizer, o exercício de aprendizagem que tive cá valeu-me muito lá.

– Uma experiência agradável…

– Uma experiência agradável.

Zeca Tcheco e Sox (Guitarrista), dois dos fundadores do Grupo RM

UMA DISCOTECA, VÁRIOS RITMOS

 

– Tem uma discoteca em casa e o que colecciona?

– Quase tudo. Jazz, afro-jazz, fusão, blues, bossa nova, música moçambicana, que não podia faltar, música africana de Angola, Zimbabwe, África do Sul, Congo, etc.

– São centenas de discos?

– São alguns discos. O mais difícil é comprar discos, porque são caros e quase não existem. A única saída é através da África do Sul ou na Europa, com amigos, porque é sempre bom ter um bom disco original. Mas na impossibilidade pede-se sempre uma cópia a um amigo.

– Há um músico que ouve com regularidade?

– São vários. Gosto, por exemplo, de David Walker, Richard Bona, Dollar Brand. Gosto também de ouvir um pianista, que toca a solo, chamado Kate Gerard, há um grupo africano chamado Ultramarino, aprecio os pianistas sul-africanos…

– Não tem, portanto, um estilo musical padronizado?

– Não, não. Hoje está tudo muito diversificado, por isso gosto de explorar essas possibilidades que se abrem ao mundo.

– Hoje só está no Grupo RM?

– Estou na banda e também sou produtor musical. E quando há trabalhos de pesquisa e recolha de música tradicional eu vou e faço isso. Estou também envolvido nas gravações e nas produções musicais.

– Com uma carreira de 42 anos, deu para acumular dinheiro e ficar rico? (risos)

– Eu estou rico de ideias. Em termos de dinheiro não estou rico e nem estou bem… (risos)

Por Francisco Manjate

Memórias perdidas, Identidades sem cidadania (*)

Posted in Comportamento, Literatura, Moçambique, Sociedade, Sociologia with tags on 6 de Abril de 2011 by gm54

 

Ungulani Ba Ka Khossa

Por Ungulani Ba ka Khosa

Permitam-me que conte um episódio que para muitos, ao tempo da história, terá parecido ridículo, inusitado, extemporâneo, pois aos olhos do tempo o momento era de reassentamento da população deslocada pela guerra que assolou Moçambique em mais de dez anos. A história passou-se com uma brigada do Alto Comissariado para os Refugiados, algures numa região do sul de Moçambique. A brigada, transportando centenas de camponeses, viu-se, durante mais de catorze horas, completamente desorientada ao não encontrar o lugar real de reassentamento, porque a população, não atinava com os marcos que identificavam o espaço, como seja a árvore, o cemitério, o bosque.

O espaço de preservação da memória destas populações havia se eclipsado com a guerra. No lugar do bosque, da árvore ou do cemitério familiar, encontraram a natureza no seu estado selvagem, indomesticada. Para os funcionários do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, na maioria moçambicanos contratados, a história entrou no anedotário local. Para eles, a reivindicação do espaço identitário da população não tinha sentido em presença da terra e da distribuição de panelas, mantas e instrumentos de produção. O importante estava em garantir à população os bens materiais essenciais à retoma da vida. Não lhes importava os referentes perdidos, os esteios à perenidade da memória. Este desencontro, desconhecimento, distanciamento e, o mais angustiante, desprezo para com a realidade identitária de parte considerável do tecido social do país, patente nos funcionários, estendia-se, a diferentes amplitudes, a toda a classe administrativa do país e, mais grave ainda, ao poder político que se apressava a dar substância à separação e interdependência de poderes consagrados na nova constituição que proclamava os direitos, garantias e liberdades individuais.

Apercebi-me, nesse momento de euforia, de encantamento com a paz, de deslumbramento com a conquista das liberdades individuais, que o nosso país se construía sobre os cacos de identidades esfaceladas, esquecidas, detestadas. E este assassínio, desculpem a impiedade do termo, teve a cumplicidade do poder político ao tempo da proclamação da independência.

Com a proclamação da independência esperava-se que as identidades circunscritas ao universo étnico ganhassem, no espaço soberano da pátria, a liberdade e o direito de confrontarem-se com identidades afins.

AS LÍNGUAS E A IDENTIDADE

O nosso país tem, segundo dados de recenseamento recente, cerca de vinte e três línguas de origem bantu que veiculam todo o universo cultural de etnias afins. Sabe-se que no período colonial, por mão de igrejas protestantes, houvera um esforço de fixação escrita das línguas, permitindo uma crescente alfabetização das populações, manifesta no fácil trato com a literatura religiosa amplamente traduzida nas línguas locais. Este esforço, embora centrado ao universo étnico, numa geografia precisa, teve o impacto de fazer chegar aos dias de hoje uma literatura que porventura se teria perdido com o tempo. Acresce-se a isto, embora reduzido a militância de poucos, o esforço de missionários católicos em recolher contos e provérbios, em elaborar dicionários e gramáticas das línguas veiculares das populações. Em consequência, era de se esperar que com o advento da independência estas iniciativas, ilhadas ao universo étnico, tivessem cidadania plena, gozando, por conseguinte, do direito de circulação e consequente confrontação com outras realidades culturais. Esperava-se que a secular presença islâmica e indiana, reduzida a nichos culturais bem delimitados, ganhasse outra amplitude no solo pátrio, de modo a que, por exemplo, as especiarias e outros aromas, enraizados ao longo da costa, se embrenhassem pelo sertão adentro e se incrustassem no adobe das palhotas da nossa existência. Esperava-se que a língua portuguesa, língua da unidade e do desenvolvimento, partilhasse o seu espaço hegemónico na educação, na informação, nos espaços públicos e privados, com outras línguas, tal como aconteceu nos princípios do século XX, quando na reduzida cidade de Lourenço Marques havia espaço para um jornal Bilingue, português/ronga, o Africano e, posteriormente, o Brado Africano, e um diário em língua inglesa, o Lourenço Marques Guardian. A língua portuguesa nunca saiu beliscada desse convívio multilingue. Com a independência esperava-se, enfim, que as várias identidades ganhassem cidadania e contribuíssem, na sua diversidade, para a construção do tecido identitário moçambicano. Mas tal não aconteceu.

O governo da época, sob a batuta dos heróis da gesta nacionalista, transladou o princípio reinante nas zonas libertadas de matar a tribo para construir a nação. O terceiro congresso da Frelimo, acontecido dois anos depois da independência, 1977, veio legitimar a uniformização cultural e ideológica como condição única para a Unidade Nacional. Estavam criadas as condições para o esbatimento da memória local e de identidades que há muito procuravam cidadania para além do espaço étnico, graças a crescente urbanização do território.

Pergunto-me hoje se é possível aquilatar as consequências do silenciamento oficial das memórias identitárias que buscaram a luz da perenidade com a independência do país? Nunca teremos a resposta adequada. Mas os sinais de que o monolitismo decretado era um erro de consequências imprevisíveis veio em forma de relatório do Comité Central da Frelimo, em 1983, em vésperas do IV Congresso, ao fazer constar que “É grande a nossa diversidade étnica e linguística. Foram diversas as formações sociais pré-coloniais, cada uma com as suas características próprias. A dominação colonial abateu-se sobre a totalidade do nosso país, mas afectou de formas diferentes as diversas regiões de Moçambique.

(…) Hoje, liberto o país, devemos lutar contra a tendência simplista de recusar a diversidade como forma de realizar a unidade. Fazer isso é considerar, erradamente, que a diversidade é um elemento negativo da criação da unidade nacional; é pensar, erradamente, que a unidade nacional significa uniformidade.”

Mas o medo há muito que havia se instalado no país. As identidades que a custo sobreviveram a seculares tentativas de esmagamento, fecharam-se nos seus nichos de sobrevivência. A guerra que se disseminava pelo território fez uso destes erros infantis cometidos pelos guerrilheiros da gesta.

Moçambique não se encontrou. Devo dizer, embora existam teorias em contrário, que o papel do Estado é fundamental na libertação de iniciativas que conduzam a cidadania plena. E os primeiros anos de independência foram fulcrais na definição da pauta da nossa sinfonia cultural. Esmagamos as notas da diversidade, silenciamos as vozes que vinham das furnas do tempo e, movidos por pretensões ideológicas de difícil sustentação, tentamos erigir um corpo, permitam-me o empréstimo, sem ADN, incaracterístico, insosso, descolorido, de voz monótona, desenraizada, totalmente à deriva. Perdemos, na euforia da libertação, a oportunidade de libertar a memória e de traçar, com inteira liberdade, o nosso destino cultural.

José Luís Cabaço, político e académico moçambicano, na sua tese de doutoramento, Moçambique – Identidades/Colonialismo e libertação, não se aventurou ao período pós-independência, mas teve a clareza de afirmar que a identidade, sendo sempre em processo, em permanente dialéctica com o passado e com o Outro, não se conclui e nunca assume o perfil dos modelos prescritivos. (…) esses modelos tendem  a criar um novo tipo de conflitualidade social e psicológica entre a representação da identidade nacional unitária e a vida real do cidadão, problema que se agrava nas sociedades africanas pós-coloniais pela sobrevivência da estrutura tendencialmente dualista herdada da colonização…

Até hoje, trinta e cinco anos depois da independência, ainda se discutem as várias formas de grafar as línguas locais. De um seminário a outro, as elites vão debulhando ideias que ficam em letra morta nos relatórios que ninguém lê. As universidades, melhor, a universidade pública Eduardo Mondlane, vai ensaiando cursos que legitimam educadores das línguas de base étnica. De tempos a tempos, ouve-se falar de uma experiência em ensino nas línguas locais. Pouco ou nada é publicitado. São iniciativas a saca-rolha. E, no meu entender, estão a margem da dinâmica da sociedade que se acultura acriticamente aos valores que a globalização vai, sem freios, difundindo pelos cantos mais remotos.

As elites recusam-se, à luz do dia, a dar cidadania aos valores circunscritos às suas etnias. Outros grupos, sem identificação étnica, escusam-se a trazer à luz os valores que herdaram de gerações e gerações que se foram fixando no solo pátrio. Mas todos falamos de uma diversidade a que desconhecemos os contornos específicos.

No campo que me diz respeito, literatura, tenho acompanhado algumas perversões a que os tempos modernos me dão a assistir. Volta e meia, leio aqui e ali, frases como segundo a nossa literatura oral, fazendo fé nas nossas tradições orais, socorrendo-me dos saberes transmitidos à volta da fogueira, e ecaetera. Pergunto-me: essa literatura oral está sendo transmitida por quem e em que espaços? Que valores se transmitem nessa literatura? Quando falamos da tradição de que tradição falamos?

Creio que as elites culturais e políticas do meu país ainda não se encontraram quanto ao objecto ou referência dos seus espaços identitários. Sou da opinião de que só posso falar da tradição quando esta me é posta a ouvir, ler e consumir. Quando quero falar da minha tradição, do meu passado, tenho que me ater a valores que me estão próximos e dos quais me confronto diariamente, interpretando-os de diversos ângulos quando, a palavra é bonita, em alteridade. Mas esses valores não estão comigo. E se estão, actuam subliminarmente. O que me é dado a ver e consumir não passa de arremedos baratos e descartáveis de valores e memórias dum tecido cultural que se vai esboroando. Os nossos filhos, especificamente os da faixa urbana, geração imediata à independência, perderam por completo o contacto com as línguas maternas dos pais ou avós; as âncoras da identificação cultural circunscrevem-se, a título de exemplo, aos modismos culturais hoje em voga, como o lobolo praticado nos casamentos modernos, os ritos de iniciação na floresta do cimento, as oferendas aos espíritos em árvores tornadas sagradas nas inaugurações de edifícios públicos e outros empreendimentos de cariz económico e social, e pouco mais. Não há uma literatura difundida desses fenómenos.

Nunca houve, nestes anos de secura cultural, um esforço concertado de, ao menos, propagar, por diversos meios, a literatura recolhida em tempos, ou a que, militantemente, foi acolhida por instituições culturais. Desde a alvorada da nossa independência que os currículos escolares não fazem constar provérbios e contos que espelhem o universo cultural moçambicano. Quando falamos de tradição, de memória, de que tradição e memória falamos?

Diz-se, em provérbio Macua, língua falada na região norte de Moçambique, que A cobra trepa sem ter pernas – Enowa enniwela ehi mettó. Mais a sul, entre os Tsonga, diz-se: Pessoa calma (silenciosa) é cobra- Munhu wo rhula i nyoka. Há aqui duas formas distintas de assumir o símbolo cobra. Para os macuas, a cobra representa versatilidade, uma capacidade invulgar de realizar determinadas actividades. Nos tsonga, pelo contrário, a cobra simboliza periculosidade; ela é o símbolo da falta de transparência, da astúcia, dos jogos de bastidores. Estes exemplos demonstram a diversidade cultural existente no meu país que não se reflecte na escola, símbolo da cidadania. As pessoas falam da tradição, mas pouco ou nada dela sabem. E o tempo vai aniquilando esses valores a que as elites se recusam a dar cidadania plena.

Várias explicações têm vindo à tona para este alheamento às realidades culturais locais. Em muitos há o medo de se perder o chão da moçambicanidade, pois temem que ao se falar da tradição, esteja-se a falar da pretização das instituições, da balcanização de um país que se pauta pelo princípio da universalidade e igualdade inscrita nos direitos, deveres e liberdades fundamentais, consagrados na constituição. Para este grupo, falar da tradição é um retrocesso, um nacionalismo redutor. Para outros, com desmedidos apetites políticos, a tradição, os valores de uma etnia, são um passaporte válido para a cidadania política, para uma carreira sem aferição de qualidade. E para muitos, a tradição não passa de um espaço arqueológico não catalogado. E todos, o que é triste, sejam grupos étnicos ou outros espaços identitários que secularmente se sedimentaram no país, não vêem a tradição como espaço de memória interpretando-se continuamente face a outras memórias em plena cidadania. E esta cidadania é conquistada hoje, na escrita, na televisão, na rádio, nas campanhas de saúde pública, nos intérpretes com direito igual aos de outras línguas soberanas que campeiam em salas repletas de auriculares, enfim, em todas os cantos e recantos.

A cidadania que se quer às diversas identidades ou tradições, é a de abertura desses espaços a outros valores próximos e distantes. Tem-se dito, e eu perfilho, que é na troca dos paladares, dos valores culinários, que a diversidade cultural ganha o primeiro grande patamar de convívio são. Se a saudosa Natália Correia dizia que a poesia é para se comer, direi que as identidades devem ser degustadas até ao tutano, para que a diversidade cultural não seja de facto um tigre de papel neste mundo globalizado.

E muito obrigado.

*Comunicação apresentada, em Coimbra, no Colóquio Internacional “Portugal entre Desassossegos e Desafios”.

Sexto Festival Nacional de Cultura em Chimoio: a celebração e exaltação da cultura moçambicana

Posted in Moçambique with tags , , , , , , on 7 de Junho de 2010 by gm54

Bebé brincando com batuque, enquanto a mãe dançarina aguarda a entrada em cena

(Imagem (EGMatos) captada sábado, 5,na vila da Namaacha, na fase de apuramento dos representantes da província de Maputo)

Chimoio, Julho/agosto de 2010. Será exactamente na capital da província central de Manica, de 27 de julho a 1 de agosto, que os fazedores das artes e cultura, uma vez mais, terão a oportunidade de celebrar e exaltar as ricas, diversificadas e milenares tradições culturais moçambicanas. É o VI Festival Nacional da Cultura, evento nacional que ocorre no Ano Internacional de Aproximação de Culturas, facto proclamado pela 62ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em reconhecimento do poder da cultura como factor de compreensão mútua, de paz e sobretudo de desenvolvimento sustentável.

O VI Festival Nacional de Cultura pretende-se que seja o momento mais alto de celebração e exaltação da cultura moçambicana, no objectivo de preservar, desenvolver as artes, a cultura e as tradições das diferentes comunidades e criar uma plataforma de interacção, intercâmbio e de divulgação do rico e diversificado património cultural do país.

Música tradicional moçambicana: “Timbila ta Venâncio”: Testemunho e consagração do icone da timbila

Posted in Moçambique, Uncategorized with tags , , , on 28 de Maio de 2010 by gm54

A Música chopi, figurada na timbila, registou esta semana mais um momento alto da sua secular história. O seu ícone, Venâncio Mbande, aos 80 anos de idade, lançou segunda-feira (21 de Maio, Dia Mundial da Diversidade Cultural), em Maputo, o seu primeiro disco compacto, com o título génerico “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”.

Trata-se de uma obra prima que em si encerra a dimensão de Venâncio Mbande, enquanto músico e precursor deste instrumento tradicional que da província de Inhambane, sul de Moçambique, granjeou simpatia em todo o mundo e hoje é Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O disco, com um total de onze faixas que retratam musicalmente a vivência e sonhos de Venâncio Mbande, é assumido desde já como a sua maior consagração.

Conta-se que este não é o primeiro registo discográfico. Logo após o seu regresso ao país e com base num estúdio móvel de 24 pistas, o músico e produtor finlandês Eero Koivistoin registou na casa do próprio Venâncio Mbande, a primeira obra intitulada “Timbila Ta Venâncio”, a qual foi editada pela NAXOS WORLD.

São escassas as informações sobre a circulação deste disco no mercado, entretanto, o que se afirma é que a NAXOS não produz para fins comerciais, mas sim funciona como depositária dos maiores clássicos do mundo.

Sob influência do seu tio e outros familiares, Venâncio Mbande aprendeu a tocar timbila aos 6 anos de idade e aos 18 anos, emigrou para África do Sul para trabalhar nas minas de Ouro. Foi neste país que em 1956, criou a sua própria orquestra e começou a compor as suas próprias músicas, começando assim, a sua grande ascensão como um dos maiores mestres de música Chopi.

Foi ainda a partir da vizinha África do Sul que Venâncio Mbande catapulta a música Chopi para os vários quadrantes do globo, particularmente depois do lançamento em 1948 do livro “Chopi Musicians”, escrito pelo etnomusicólogo Hugh Tracey. Diz-se que o livro contribuiu bastante para o reconhecimento internacional da música Chopi.

Mas foi com o apoio do professor de etnomusicologia Andrew Tracey, filho de Hugh Tracey que Venâncio Mbande se tornou no maior mestre de timbila conhecido no mundo, tendo actuado em muitas cidades importantes da Europa, e a sua música ou filmes, constam dos arquivos das mais importantes bibliotecas e arquivos espalhados pelo mundo inteiro.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

Conforme disse David Abílio, director geral da CNCD, entre essas figuras, destaque vai para o Venâncio Mbande, considerado o maior ícone de timbila. “Nós somos testemunhos disto. Nas nossas viagens, pelo mundo fora por curiosidade, visitamos bibliotecas e arquivos especializados em música e dança, para sabermos que informação dispunham de África e em particular de Moçambique. E encontramos com surpresa e satisfação, músicas gravadas e imagens de Venâncio Mbande, as vezes como a única referência de Moçambique”, anotou David Abílio, afirmando que prova maior da presença universal de Mbande foi a proclamação de Timbila pela UNESCO em 2005 como Obra Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O Primeiro-Ministro moçambicano, Aires Ali presente na cerimónia oficial do lançamento do disco, apelou a dado passado do seu discurso, a união de esforços para que haja mais registo de obras de Venâncio Mbande, não só sob forma de disco, mas também de filme.

É interesse que a obra daquele ícone de timbila seja cada vez mais difundida e que sirva de bandeira da moçambicanidade. Aliás, Aires Ali disse que nas suas visitas de trabalho quer dentro ou for a do país, vai lever sempre consigo o disco de Venâncio Mbande.

De referir que depois da cerimónia oficial de lançamento do disco nas instalações do Centro Cultural Franco Moçambicano, Venâncio Mbande e a sua orquestra constituída foi 20 elementos, fizeram-se ao palco principal da “Aldeia Cultural” para apresentação ao grande público do novo álbum “Made in Mozambique”.

Indica-se que além da CNCD, da Ekaya Productions, o disco foi registado e produzido com o patrocínio da MOZAL, contou com o apoio da UNESCO e do Centro Cultural Franco Moçambicano.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

Longa-metragem ‘A República das Crianças’ de Flora Gomes nasce nas ruas de Maputo

Posted in Cinema, Moçambique, Uncategorized with tags , on 23 de Maio de 2010 by gm54

Flora Gomes dando instruções a um dos jovens actores numa rua da cidade de Maputo

Numa cidade onde todos os adultos foram para a guerra, são as crianças que assumem as funções dos mais velhos, de polícia sinaleiro a deputado, e constroem um mundo novo, de esperança e de sonhos. A cidade existe só na cabeça de Flora Gomes, mas está gradualmente a tomar forma nas ruas da capital moçambicana, onde o realizador guineense está a filmar A República das Crianças, a sua quinta longa-metragem.

O argumento, escrito a meias com um amigo, está pronto há meia dúzia de anos mas só agora começaram as filmagens, depois de escolhidos os nove actores principais entre 600 crianças de Maputo. No meio delas, um adulto, o actor norte americano Danny Glover, de Escape from Alcatraz, Lethal Weapon, Silverado ou, mais recentemente, 2012, onde interpreta o papel de presidente dos Estados Unidos.

“Queria falar um pouco de uma África mais organizada, uma África de esperança. Nos últimos tempos tem havido muitas guerras civis no nosso continente e queria virar as páginas da história, fazer com que pensássemos como um povo livre, que sonha e que constrói um país, para uma nova geração”, conta Flora Gomes. O cineasta resume assim o conteúdo do conto dos meninos que ocuparam a cidade que os adultos abandonaram, que organizaram o sistema de saúde e de educação, e criaram um Parlamento onde o presidente é diferente todos os dias.

Como em filmes anteriores, Flora Gomes escolheu não-profissionais para fazer o filme, onde Danny Glover, o conselheiro da República, é um dos poucos adultos com um papel relevante.

“Gosto dessas aventuras, de trabalhar com crianças, e até adultos, que nunca fizeram cinema. E tem dado resultado”, diz o realizador.

“Não e fácil trabalhar com meninos, mas é apaixonante. Gosto muito. Em todos os meus filmes sempre tenho essa possibilidade de trabalhar com os miúdos que nos dão coisas extraordinárias”, garante Flora Gomes num intervalo das filmagens, quando grandes camiões, projectores, máquinas de filmar e muita confusão deixam de boca aberta dezenas e dezenas de outras crianças, ávidas de ver o “circo” que se monta uma manhã inteira para um minuto de filmagem.

O filme, diz o cineasta guineense, deverá estar pronto no final do ano e a montagem é feita em Portugal, tanto mais que é uma co-produção portuguesa (Tejo Filmes) e francesa (Les Films de l’Après-midi).

Após 18 meses de inoperância, reaberta a Biblioteca Nacional de Moçambique em Maputo

Posted in Arquitectura, História, Moçambique with tags on 15 de Abril de 2010 by gm54

Fachada da Biblioteca Nacional de Moçambique, após restauro

A Biblioteca Nacional de Moçambique (BNM), baseada em Maputo, reabriu ontem (quarta-feira) ao público, depois de ter encerrado as portas durante um ano e meio devido as obras da sua reabilitação e ampliação.

Orçadas em cerca de 14 milhões de meticais (cerca de 400 mil dólares americanos) desembolsados pelo Governo moçambicano, estas obras consistiram na construção de um edifício de dois pisos destinado a alojar funcionários da instituição, redimensionamento do espaço, revisão da instalação eléctrica, entre outros aspectos.

Segundo o director da BNM, Roque Félix, com essas novas facilidades, esta instituição poderá fornecer novos serviços ao público, como material de leitura infanto-juvenil, leitura para pessoas portadoras de deficiência física, Internet e mediateca.

No âmbito do mesmo projecto, a BNM contou com mais oito mil livros (entre didáticos, ficção e de conhecimentos gerais) que se adicionam ao anterior acervo bibliográfico estimado em cerca de 150 mil obras.

Falando durante a cerimónia de reabertura desta instituição, o Primeiro-Ministro moçambicano, Aires Ali, disse que o Governo atribui a BNM um papel muito importante de preservar, conservar e disponibilizar o património documental do país e de interesse para o país.

“É justamente por isso que o Governo aprovou, em 2007, a criação em todo o país das bibliotecas públicas provinciais bem como atribuiu aos governadores provinciais competência de criar bibliotecas públicas distritais e outras”, disse o governante, acrescentando que “assim lançamos as bases de criação de condições para a materialização do apanágio do Governo de melhorar a qualidade do ensino, criando espaço para um ambiente de leitura permanente”.

Ainda na mesma cerimónia, foi lançada página da Internet (www.redicem.org.mz) da Rede dos Direitos da Criança em Moçambique, uma iniciativa de diversas organizações, incluindo as Nações Unidas, destinada a criar um espaço para a promoção e protecção dos direitos legítimos da criança através da partilha de informação entre organizações da sociedade civil e outras instituições que trabalham nesta área.

Esta página da Internet é parte do projecto do Centro de Informação para o Desenvolvimento, uma unidade que passará a funcionar dentro das instalações da BNM onde as pessoas poderão ter acesso a inúmeras obras que se encontravam nas bibliotecas de diversas instituições internacionais, incluindo agências das Nações Unidas.

Depois destes passos, a BNM tem agora o desafio de informatizar todo o seu acervo bibliográfico e das bibliotecas públicas espalhadas pelo país de modo a permitir que, gradualmente, estas instituições estejam ligadas a uma única rede.

Renascimento da filatelia moçambicana? Os sabores da nossa gastronomia em 3 selos assinados pelo chief Marcos Graça

Posted in Artes Plásticas, Correios de Moçambique, Filatelia, Moçambique on 14 de Abril de 2010 by gm54

Selo sobre borboletas moçambicanas editado pelos serviços filatélicos coloniais portuguêses

Uma colecção de três selos assinados por Marcos Graça, um chief de cozinha moçambicana e internacional, circula há semanas pelo mundo. É a primeira vez que a empresa Correios de Moçambique emite selos com temática sobre os pratos típicos de Moçambique, a chamada gastronomia nacional.

Os serviços de Filatelia de Moçambique, ao longo dos anos, apresentaram selos retratando imagens sobre o rico potencial faunístico incluindo lugares e terras moçambicanas, nomedamente, grupos de animais, de flores, nomes de terras e lugares etc.

A nova colecção sobre a gastronomia moçambicana apresentam o valor facial de 8MT, 20MT e 40MT (Usd 1 equivale a 31MT) e presentemente já esgotaram no mercado segundo o autor das estampilhas.

Sobre quando é que ele teve conhecimento do referido concurso, ele sustenta que muitas vezes as pessoas são reconhecidas pelo seu valor, quer profissional, académico, artístico ou de qualquer outra índole. Assim, no caso dele, a sua participação foi-lhe sugerido e encorajado por pessoas que conhecem o seu potencial criativo e assim ele acedeu. “Como eu tenho por tradição guardar o meu acervo e registo profissional, tecnicamente chamado por portifolio, foi fácil levar para este concurso.

“Nesse portifolio continha fotografias dos pratos das regiões do sul, centro e do norte. No total eram quinze propostas e foram seleccionadas três”, recorda.

Trata-se de imagens representando um bolo de milho (Nampula), quiabo com camarão e coco ( Zambézia) e matapa com carangueijo com coco e amendoim (Inhambane).

Sobre a sua participação no certame, chief Marco Graça explica que para a emissão de selos, a empresa lançou um concurso desafiando aos potencias candidatos da área de para que apresentam as suas propostas na área de gastronomia moçambicana em 2008. A ideia era de levar os selos para participar numa mostra internacional em Portugal na Associação dos Operadores dos Correios de Portugal dos Países e Territórios de Expressão de Língua Portuguesa, e receberam muitas propostas. E de tantas propostas o jurado escolheu três propostas da minha autoria (reunidas num portofolio em fotografia) que são pratos típicos da nossa gastronomia dividida em três regiões.

História: primeiro hospital central do país corre risco de desabar na Ilha de Moçambique

Posted in Arquitectura, História, Moçambique with tags , on 13 de Abril de 2010 by gm54

O edificio onde funcionou o primeiro hospital central do país, na Ilha de Moçambique, em Nampula, está na eminência de desabar, devido à falta de trabalhos visando a sua restauração, enquanto não há definição por parte das instituições governamentais e parceiros ligados à matéria daquilo que será o destino daquele património histórico da humanidade.

O referido edifício é constituído por duas partes importantes sendo a principal que acomoda os serviços de administração, onde funciona a direcção distrital da mulher, saúde e acção social. Na parte traseira funcionam as enfermarias e serviços de consultas externas para servir uma cidade com cerca de 14 mil habitantes.

De acordo com o jornal Noticias de Maputo, uma parte do bloco administrativo foi tomada de assalto por funcionários públicos transferidos de outros distritos, os quais transformaram os compartimentos em habitação, sem o consentimento do governo municipal, segundo dados apurados pela nossa reportagem.

O governo da Ilha de Moçambique avançou há cerca de cinco anos com uma proposta ao Ministério da Saúde no sentido de concessionar o edifício, do primeiro hospital do país erguido há cerca de 137 anos, a um grupo privado ligado ao ramo de turismo. A ideia inicial era de transformar o imóvel em estabelecimento hoteleiro de quatro estrelas.

A proposta do referido grupo constituído por investidores norte-americanos, incluía a construção de raiz de um centro de saúde com serviços de maternidade, cirurgia, estomatologia, pediatria entre outros, numa área a ser definida pelas entidades do sector da saúde, entre a parte insular da Ilha ou a zona continental do Lumbo.

No entanto, o ministro da saúde, Ivo Garrido, distanciou-se dessa iniciativa que visava, segundo os preponentes, salvar aquele edifício que está num estado crítico de conservação, pois não beneficia de intervenção há mais de duas décadas.

Na ocasião, o titular da pasta da saúde reconheceu que a reabilitação do edifício onde funcionou o referido hospital e relegado ao nível de centro de saúde o Governo vai acarretar custos elevados para a sua reabilitação, os quais o Executivo não está em altura de os suportar.

Celestino Gerimula, director do Gabinete de conservação da Ilha de Moçambique, GACIM, disse quando indagado sobre o futuro do edifício em causa que a indecisão que prevalece em torno do aproveitamento daquela infra-estrutura está somente a contribuir para o agravamento dos níveis de degradação do referido património.

Acrescentou que tal situação dificulta a concretização dos esforços que estão sendo encetados no sentido de mobilizar fundos junto de parceiros internacionais integrados na rede liderada pela UNESCO, virada à restauração do património tangível da Ilha de Moçambique em que o edifício do antigo hospital central está integrado.

De referir que o actual centro de saúde a Ilha de Moçambique não reúne as condições exigidas para a prestação de cuidados sanitários, porquanto o tecto deixa infiltrar água para o interior das enfermarias e áreas concebidas para consultas externas. Alguns serviços indispensáveis como a morgue e estomatologia funcionam abaixo das suas capacidades, situação que propicia a deslocação dos pacientes para a vila de Monapo, onde os serviços são mais adequados.

Em Maputo: construção do monumento em memória de Samora Machel dentro dos prazos

Posted in História, Moçambique with tags , on 11 de Abril de 2010 by gm54

Esta estátua de Samora Machel está situada junto da Casa de Ferro, defronte do Pórtico do Jardim Tunduru, na cidade de Maputo

O presidente moçambicano,  Armando Guebuza, reafirmou que os trabalhos de construção, na Praça da Independência, cidade de Maputo, do futuro monumento em memória do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, estão dentro do prazo e serão concluídos até 2011.

Guebuza respondia a uma pergunta feita dos jornalistas no Senegal, onde ele juntamente com outros líderes africanos testemunharam a inauguração do gigantesco e magnífico monumento do Renascimento Africano, com 50 metros de altura, edificado nas vulcânicas colinas Ouakam, arredores em Dakar, capital daquele país da costa ocidental africana.

“Quando lançamos a primeira pedra concluímos que o mesmo devia ser feito em todas as capitais provinciais e indicou-se como horizonte temporal cinco anos que ainda não passaram”, explicou Guebuza.

O estadista moçambicano disse, por outro lado, que além da primeira pedra já existem em várias partes do país trabalhos de concessão e mesmo de construção daquilo que será o monumento em todas as capitais provinciais, representando a verdadeira dimensão de Samora Machel.

Guebuza disse, em Outubro de 2006, no lançamento da primeira pedra, acto que também coincidiu com a passagem do 20º aniversário da sua morte, que a melhor e mais indelével homenagem ao presidente Samora Machel é um Moçambique em paz e livre da pobreza, onde se consolida continuamente a unidade nacional.

Em relação a decisão de colocar o monumento de Samora Machel na Praça da Independência, lugar que é, na verdade, mais aberto a qualquer pessoa que visita a cidade, Guebuza disse ser ali que tiveram lugar as grandes realizações políticas, intrinsecamente ligadas ao percurso e liderança do fundador do Estado moçambicano.

Guebuza apontou, a título de exemplo, o facto de ter sido naquela praça que Samora Machel conferiu posse ao primeiro Governo de Moçambique independente e dirigiu comícios populares e foi nela onde foram anunciadas as mais importantes decisões com grandes implicações políticas, económicas e sociais.

O valor histórico da Praça da Independência reside também no facto de ser nela em que os moçambicanos disseram, segundo Guebuza, o seu derradeiro adeus a Samora Machel, líder carismático, nobre filho de Moçambique e de África e cidadão do Mundo.

Samora Machel morreu na sequência do despenhamento do avião presidencial em que seguia, nas colinas de Mbuzini, na África do Sul, quando regressava da Zâmbia. Com ele pereceram 34 membros da sua delegação, cujas reais circunstâncias da tragédia ainda não foram devidamente esclarecidas.

Literatura: Vera Cruz lança “Linhas de Fuga”, uma colectânea de longas crônicas de viagem

Posted in Crónicas de Viagem, Literatura, Moçambique with tags on 9 de Abril de 2010 by gm54

“Linhas de Fuga” é o título da nova obra literária do escritor, jornalistas e docente universitário, Germano Vera Cruz, a ser lançado no próximo dia 14 de Abril, no Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM), em Maputo. Trata-se de um livro de crónicas de viagem à França, Swazilândia, Japão, Finlândia, Moçambique e Brasil.

Editada pela Imprensa Universitária, a obra é uma colectânea de longas crónicas de viagem que tratam de experiências pessoais do autor na relação com os povos locais, abordando igualmente aspectos socioculturais desses países.

As crónicas já foram publicadas em jornais ou revistas nacionais e estrangeiras.

“Conto as minhas experiências de viagem de maneira lúdica, com muito humor, utilizando para o efeito uma linguagem bastante criativa”, disse Vera Cruz.

“Como vivi durante muitos anos na França, quando vinha de férias a Moçambique observava o meu próprio país, de certa maneira, como um estrangeiro. Daí que eu tenha escrito também algumas crónicas de viagem sobre Moçambique, uma das quais consta do livro”, explicou.

O autor realçou ainda que este livro é o primeiro volume do género. “Se tudo correr bem, próximo ano pretendo publicar um livro que será o segundo volume.

Nele constarão crónicas de viagem à Itália, China, Coreia do Sul e do Norte, Estados Unidos, Rússia e Austrália. Aliás, as referidas crónicas já foram todas escritas”.

O livro a ser lançado é o quinto livro publicado pelo autor (entre os quais livros científicos, romances e um livro de poesia), sendo o terceiro a o ser feito em Moçambique, dado que os restantes dois foram publicados em francês, na França.