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Mia Couto – Homenageado no Brasil, afirma que reforma ortográfica não faz sentido

Posted in Uncategorized with tags , , , , , on 3 de Julho de 2009 by gm54
"Nós já nos entendemos, eu sempre li brasileiros sem dificuldade nenhuma"

"Nós já nos entendemos, eu sempre li brasileiros sem dificuldade nenhuma"

Antes da unificação da grafia da língua portuguesa nos países africanos que falam oficialmente o português, é preciso discutir questões do âmbito social e político, defende o escritor moçambicano Mia Couto para quem a reforma ortográfica não faz sentido.

“Eu não tenho uma posição militante em relação a isso, não dou essa importância. Reconheço que pode haver algumas razões para se fazer uma reforma ortográfica. Eu sou crítico ao discurso que foi feito para justificar o acordo para ficarmos mais próximos, para nos entendermos melhor, isso é mesmo mentira”, disse.

Para Mia Couto, os falantes da língua portuguesa já se entendem, “é mentira que tenhamos nos afastado do ponto de vista cultural do conhecimento”. E complementa que “nós já nos entendemos, eu sempre li brasileiros sem dificuldade nenhuma”.

De acordo com o sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras que está no Rio de Janeiro para o Festival de Teatro da Língua Portuguesa, o que afasta o mundo lusófono são as “opções políticas e estratégias que as elites desses países têm”. Se estas questões não forem discutidas, segundo disse à Lusa o escritor moçambicano, “vamos criar um mal entendido pensando que automaticamente, por uma razão técnica, nós vamos chegar a uma maior proximidade”.

Mia Couto diz sentir prazer em ler autores brasileiros com “elementos gráficos diferentes para que essa diversidade esteja presente”. E refere não ter “medo de uma língua que tenha diversidades com a tradução de marcas culturais e geográficas, não temos que ter medo disso”.

Ele afirma-se resistente ao Acordo Ortográfico que no Brasil vigora desde 1 de Janeiro deste ano. Para o escritor, os países pobres de língua portuguesa precisam “resolver uma série de outras coisas antes (da reforma) que não sei se estão a ser discutidas”.

“Entendo que em Portugal este assunto foi tido com muito mais nervos e componentes psicológicos” e contrapôs que em Moçambique, um país com mais de 25 línguas africanas, o português é tido como segunda língua. “As pessoas lá são quase sempre multilíngues, pois falam duas ou três línguas africanas.”

Com seu livro recém lançado no Brasil “Antes de nascer o mundo”, cujo título em Portugal e em Moçambique é “Jesusalém”, Mia Couto considera-se antes de tudo um poeta e diz que o que lhe fascina na prosa é o “poder fazer a criação poética, não só em cima da linguagem, mas em cima da narrativa”.

“Para mim a poesia não é só um gênero literário, é uma maneira de eu ver o mundo, de eu sentir o mundo”, salientou ao destacar que a literatura ainda pode causar encantamento e criar utopias.

“A literatura pode mostrar o gosto de se poder sonhar e se poder construir outros dias. Não é o escritor que desenha um caminho para a saída, mas ele mostra que há um prazer em encontrar um mundo para além desse”, declarou.

Após 16 anos de guerra civil com um saldo de um milhão de mortos, Mia Couto se diz céptico, mas que a literatura pode ajudar a cicatrizar as feridas.

“Eu faço arte, literatura, e sou movido por este desejo de ter um compromisso ético de criar uma sociedade nova em Moçambique, um mundo mais justo com mais verdade”, explicou.

Mia Couto é homenageado na abertura de Festival de Teatro no Brasil

"Os países pobres de língua portuguesa precisam "resolver uma série de outras coisas antes (da reforma) que não sei se estão a ser discutidas"

"Os países pobres de língua portuguesa precisam "resolver uma série de outras coisas antes (da reforma) que não sei se estão a ser discutidas"

O escritor moçambicano Mia Couto foi o homenageado no Festival de Teatro da Língua Portuguesa (Festlip) que decorre até dia 12, no Rio de Janeiro, e leva ao Brasil onze espectáculos teatrais de seis países lusófonos.

“Estamos a consolidar uma parte da cultura de nossa língua portuguesa. O Mia Couto é homenageado pelo que ele representa e pelo incentivo que dá aos grupos de teatro. É uma pessoa que o teatro de língua portuguesa tem se alimentado”, afirmou na noite de abertura do festival a idealizadora do evento, a actriz e produtora Tânia Pires.

Esta segunda edição do festival que já integra o calendário cultural carioca reúne 80 profissionais de teatro de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal.

Cada país será representado por duas companhias, a excepção de Guiné-Bissau, que faz sua estreia no Festlip com montagem do Grupo do Teatro do Oprimido, criado no país pelo recém-falecido dramaturgo Augusto Boal.

Na programação, além da palestra de Mia Couto cujo tema será a “metamorfose da literatura para o teatro”, será encenado pelo Grupo Tijac, de Moçambique, o espectáculo “Mar me Quer”, baseado na obra de sua autoria.

Mia Couto disse ter tido dúvidas se aceitava o convite para o festival e afirmou ter pensado em declinar e dedicou a homenagem a todos os “heróis fazedores de teatro”.

O escritor disse que na reprodução das suas obras literárias para o teatro e para o cinema, há uma “tentação de que aquilo que fizemos pelo menos não morra”.

“Significa que há um diálogo entre linguagens diferentes. Transplantar significa exactamente semear no outro terreno e o que vai nascer será uma outra coisa, eu noto que meu trabalho serviu de inspiração, de ponto de partida”, afirmou, ao referir que procura não ter a expectativa de que o que está a ser feito possa ser um “prolongamento” de sua obra.

Nascido em Beira, Moçambique, em 1955, Mia Couto é sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras. Além de jornalista, ex-militante político e biólogo, Mia Couto é considerado um dos grandes escritores contemporâneos africanos de literatura de expressão portuguesa.

Entre seus prémios, o moçambicano foi distinguido pelo conjunto da sua obra com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e também recebeu o Prémio União Latina de Literaturas Românicas em 2007.

A expectativa para este ano é de que cerca de 18 mil pessoas circulem pelas eventos culturais e assistam aos espectáculos teatrais, todos com entrada franca.

O segundo Festlip conta com apoio das embaixadas de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Portugal, Instituto Camões, Ministério da Cultura, Fundação Palmares e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Gabriel García Márquez diz que não vai parar de escrever

Posted in Uncategorized with tags , , on 8 de Abril de 2009 by gm54

"O meu trabalho não é publicar, é escrever"

"O meu trabalho não é publicar, é escrever"

O colombiano Gabriel García Márquez diz que não faz outra coisa a não ser escrever, em declarações ao jornal El Tiempo, de Bogotá, publicadas nesta terça, 7. Assim, o escritor Prêmio Nobel de literatura nega que tenha abandonado a arte da escrita como foi divulgado pela imprensa mundial recentemente.

O jornal perguntou ao autor de Cem Anos de Solidão se era verdade que ele não escreveria mais, como sustentou a sua agente literária espanhola Carmen Balcells ao jornal chileno La Tercera.

Não só não é verdade, como a única certeza é que eu não faço outra coisa que não seja escrever”, respondeu García Márquez pelo telefone desde a sua casa no México.

Ao ser interrogado se “voltará a publicar livros” García Márquez respondeu que o seu “trabalho não é publicar, mas escrever“.

Eu saberei quando estarão a ponto de ser colocados na boca os pastéis que estou a fabricar“, declarou.

García Márquez, de 82 anos, não publica desde 2004, quando foi lançada a primeira parte de sua autobiografia, Memória de Mis Putas Tristes.

Creio que García Márquez não voltará a escrever nunca mais“, disse recentemente Carmen Balcells, uma das mais influentes agentes literárias de língua espanhola, o que causou inquietação entre os seus leitores. À sua declaração se somou a do britânico Gerald Martin, responsável pela única biografia autorizada do romancista colombiano, que disse também acreditar que García Márquez “não escreverá mais livros“.

Taslima Nasreen: Poeta, escritora, médica e activista

Posted in Literatura with tags , on 22 de Dezembro de 2008 by gm54
Vivo em lado nenhum

Vivo em lado nenhum

Já foi ameaçada de morte por grupos fundamentalistas islâmicos, mas isso não a impediu de escrever cerca de 30 livros de poesia, ensaios, novelas e pequenas histórias, quase sempre no exílio. Taslima Nasreen, de 46 anos, tem denunciado as violações dos direitos das mulheres em países muçulmanos, e a sua obra fez com que fosse distinguida com o Prémio Sakharov para a liberdade de pensamento do Parlamento Europeu, em 1994, e em 2008 com o Prémio Simone de Beauvoir.
O seu livro mais polémico foi Lajja, que em bengali quer dizer “vergonha”. Foi por causa dele, e dos protestos que gerou, que acabou por deixar o Bangladesh em 1995. O livro foi banido, alegadamente por ofender os muçulmanos. Durante alguns meses, Nasreen viveu sob fortes medidas de segurança em Daca, mas depois acabou por exilar-se na Suécia. Um livro autobiográfico, A Minha Infância, acabou por também ser banido, e um tribunal do Bangladesh condenou-a a um ano de prisão.
Taslima Nasreen foi para Calcutá, mas os protestos continuaram. Diz que foi pressionada a deixar a Índia e hoje vive exilada na Europa.

Leia entrevista com a escritora em: wwwnantchite.blogspot.com

Os 50 anos da atribuição do Nobel a Boris Pasternak

Posted in Uncategorized with tags , on 4 de Dezembro de 2008 by gm54

Boris Pasternak

Por: António Rodrigues, DN: 04/12/08

Há 50 anos, em plena Guerra-fria, a Academia Sueca atribuía o Nobel da Literatura a Boris Pasternak por causa de um livro, uma história de amor entre um médico poeta e uma filha da aristocracia com a Revolução de Outubro como triste pano de fundo. Dr. Jivago tornou-se um dos romances mais populares do séc. XX mas a União Soviética deixou o autor morrer sem colher os louros.

Era uma vez outro tempo. Há meio século, numa era em que o mundo se dividia em dois e a literatura tinha tanta importância que os governos se sentiam ameaçados pelos escritores. Num gesto que, sem deixar de ser político, tinha a sua justificação literária, a Academia Sueca entregava o Nobel da Literatura a Boris Leonodovich Pasternak, poeta popularíssimo entre os russos que, em 1957, tinha conseguido contrabandear para o Ocidente um fresco desencantado sobre a União Soviética, com a Revolução de Outubro como pano de fundo.

O livro vinha impregnado da aura romântica das obras que conseguem ver a luz do dia apesar de todas as vicissitudes. Escrito na Rússia ao longo de quase quatro décadas é, ao mesmo tempo, um manifesto de amor à arte como fim em si mesmo, uma história de amor grandiosa, um épico histórico sobre a União Soviética que se ergue sobre os escombros dourados da Rússia dos czares e uma obra súmula das preocupações do seu autor.

Pasternak, a quem a política e os grandes movimentos sociais interessavam menos do que a arte em si, o mundo não se moldava pelo homem e as suas acções; influenciado essencialmente por correntes de amor, fé e destino, o mundo tinha pouco de construção e mais de consequência das vidas de cada indivíduo. Como o amor entre o Dr. Jivago e Lara, belo e trágico, quase sempre adiado, ao sabor dos destinos que se entrechocam e cujo idealismo sucumbe diante dos horrores que vão cometendo os exércitos Vermelho e Branco.

A existência do Dr. Jivago tem muito a ver com o destino escolhido pelo escritor. Nascido numa família de artistas judeus da cosmopolita Moscovo do final do século XX, filho do pintor Leonid Pasternak e da pianista Raitza Kaufman, Boris Pasternak pertencia a uma estirpe desprezada pela Revolução de Outubro.

Tendo crescido entre alguns dos maiores vultos da cultura da viragem do século – como Rainer Maria Rilke, visita lá de casa, de quem depois se tornaria grande admirador e tradutor – e apesar da maior parte dos seus familiares ter optado pelo exílio depois do triunfo Vermelho em 1917, o escritor preferiu ficar.

Por ter tomado essa decisão, por essa curiosidade intelectual em relação à experiência bolchevique primeiro e depois por temer que nunca mais o deixassem regressar, viu os seus pais pela última vez em 1922, quando recebeu autorização para os visitar em Berlim.

Contrabandeado desde Moscovo por um jovem italiano desencantado com a sua experiência soviética, Sergio D’Angelo; editado em Itália pela primeira vez numa pequena editora de um playboy comunista a que os acontecimentos na Hungria tinham abalado a fé na União Soviética, Giangiacomo Feltrinell; o Dr. Jivago só viu a luz do dia e teve este impacto e de forma tão rápida pela capacidade do editor em resistir às pressões e visão de marketing.

Ao saber da notícia do Nobel, Pasternak enviou um telegrama para Estocolmo: “Extremamente agradecido, comovido, orgulhoso, surpreendido, atónito”. Quatro dias depois, pressionado pelas autoridades soviéticas, recusaria o prémio: “Considerando o significado atribuído a este prémio na sociedade a que pertenço, tenho de o recusar. Por favor, não se ofendam com a minha rejeição voluntária”.