Arquivo de Ricardo Rangel

O “Até sempre Ricardo Rangel” é hoje em Maputo

Posted in Imprensa with tags , , , on 15 de Junho de 2009 by gm54
Rangel no Centro de Formação Fotográfica, em Maputo

Rangel no Centro de Formação Fotográfica, em Maputo

Vão hoje a enterrar no cemitério de Lhanguene, em Maputo, os restos mortais do proeminente fotojornalista moçambicano, Ricardo Rangel, falecido na noite da passada quinta-feira, 11.

O estado moçambicano tomou a si a responsabilidade das cerimónias do último adeus a este ícone da fotografia moçambicana, aguardando-se que várias centenas de pessoas, entre colegas, familiares, fazedores de arte, membros do governo, da sociedade civil e outros, prestem o derradeiro adeus a Rangel.

A urna contendo os restos mortais do foto-jornalista estará depositada nos Paços do Conselho Municipal da cidade de Maputo, após o que será transportada para a sua derradeira morada.

A morte de Rangel ocorreu de forma súbita, quando ele se encontrava em sua residência por volta das 20 horas desta Quinta-feira. No mesmo dia, ele havia estado a trabalhar no Centro de Formação Fotográfica (CFF), onde ele era director.

Contudo, desde Setembro de 2006, Rangel padecia de problemas cardiovasculares, tendo ficado hospitalizado durante perto de um ano. Por causa deste problema, foi-lhe amputada uma das suas pernas em 2007, mas desde lá vinha recuperando, apesar de sofrer recaídas de quando em vez.

Considerado decano dos fotojornalistas moçambicanos, Ricardo Achiles Rangel foi um dos primeiros jornalistas de imagem do país não-brancos com carreira iniciada no tempo colonial.

Ao longo do regime colonial português, diversas fotografias de Rangel foram banidas devido ao seu carácter crítico. Aliás, em entrevista dada a BBC em Junho de 2005, Rangel chegou a dizer que os “censores” da era colonial não eram muito inteligentes.

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“Muitas vezes eles não se apercebiam da mensagem que transmitia certo texto ou determinada fotografia: não sabiam ler as fotografias. Passaram algumas que eram declaradamente contra o regime, mas a grande maioria só foi publicada depois da independência”, disse ele, na altura.

Ao longo da sua careira, Rangel fotografou diversos acontecimentos que documentam diversos acontecimentos de carácter socio-económico e cultural do país.

Ele faz parte do grupo de jornalistas da revista Tempo, a primeira publicação a cores do país, bem como trabalhou para os jornais “A Tribuna”, “Domingo”, entre outros, tendo depois fundado o CFF, onde era director desde 1983.

Ano passado, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga instituição do ensino superior do país, distinguiu Rangel com o titulo de Doutor Honoris Causa em História Visual, em reconhecimento da sua contribuição para o país ao longo do seu percurso humano e profissional.

É o único fotojornalista moçambicano que, graças à grandiosidade e universalidade da sua obra, foi seleccionado para figurar numa lista mundial de ouro, que integra apenas os melhores mestres da arte de fotografar de todo o mundo. Actualmente, conta com 327 nomes compilados nos últimos 200 anos.

Outro facto que mostra que Rangel foi um grande mestre na arte de fotografar, é que essa lista de ídolos fotográficos mundiais, encabeçada pelo pioneiro francês desta arte Louis Daguerre, nascido em 1787 e falecido 73 anos antes do nascimento de Rangel – é que o nosso RR é apenas um dos três africanos que fazem parte dessa galeria de ouro dominada por grandes mestres fotográficos dos EUA, França, Grã-Bretanha e vários outros países desenvolvidos, como Itália, Alemanha, Suécia, Suíça, Japão, Canada e Austrália.

Os outros dois mestres do nosso continente são Gary Schneider, da África do Sul e Samuel Fosso, apresentado na lista como sendo apenas um africano.

Morreu Ricardo Rangel, decano do foto-jornalismo moçambicano

Posted in Fotografia with tags , , , on 12 de Junho de 2009 by gm54
Auto-retrato

Auto-retrato

O foto-jornalista moçambicano Ricardo Rangel, 85 anos, morreu esta quinta-feira, 11, em Maputo, enquanto dormia, disse fonte familiar.

Ricardo Rangel, uma referência na área da fotografia em Moçambique, através da qual denunciou a ditadura colonial, participou em dezenas de exposições em diversos países.

Começou a trabalhar na área da fotografia aos 17 anos, num laboratório, passou pelo jornal bi-lingue “Lourenço Marques Guardian” e depois entrou para o jornal “Notícias da Tarde”, onde foi o primeiro foto-jornalista não branco.

Em 1996, chegou o seu reconhecimento internacional, quando foi incluído na mostra “Fotógrafos africanos de 1940 aos nossos dias” (Museu Guggenheim, Nova Iorque) e numa homenagem prestada pelos Encontros da Fotografia Africana em Bamako, no Mali. Foi condecorado com o grau de Oficial das Artes e Letras pelo governo francês.

O seu percurso começou em 1941, como aprendiz do fotógrafo Otílio Vasconcelos.

Lourenço Marques Guardian , Notícias, Notícias da Tarde , A Tribuna , Diário de Moçambique, Voz Africana e Notícias da Beira , foram jornais onde trabalhou.

Fundou a revista “Tempo”, o Sindicato Nacional dos Jornalistas – SNJ e a Associação Moçambicana de Fotografia – AMF . Em 1983, foi nomeado para fundar e dirigir o Centro de Formação Fotográfica.

Expôs em Moçambique, Mali, Itália, África do Sul, Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Zimbabwe, Holanda, Suécia e França.

Sebastião Salgado disse, numa exposição em Paris, ter sido bastante marcado pelas fotos de Ricardo Rangel, quando as viu, em 1974, na sua primeira viagem a Moçambique.

RRangel fotagrafou a "má vida" na Rua Araújo, então Lourenço Marques, hoje Maputo

RRangel fotagrafou a "má vida" na Rua Araújo, então Lourenço Marques, hoje Maputo

Numa entrevista ao jornal “Público”, em Junho de 1991, Rangel afirmou que começou a tomar consciência da importância das suas fotografias pelo facto de a censura as cortar.

Licínio de Azevedo, cineasta brasileiro radicado em Moçambique, fez em 2006 um documentário de 52 minutos intitulado “Ricardo Rangel – ferro em brasa” em que Rangel nos conduz pela sua vida e obra, onde a cidade de Maputo, a boémia e o jazz tem um lugar especial.