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Memórias perdidas, Identidades sem cidadania (*)

Posted in Comportamento, Literatura, Moçambique, Sociedade, Sociologia with tags on 6 de Abril de 2011 by gm54

 

Ungulani Ba Ka Khossa

Por Ungulani Ba ka Khosa

Permitam-me que conte um episódio que para muitos, ao tempo da história, terá parecido ridículo, inusitado, extemporâneo, pois aos olhos do tempo o momento era de reassentamento da população deslocada pela guerra que assolou Moçambique em mais de dez anos. A história passou-se com uma brigada do Alto Comissariado para os Refugiados, algures numa região do sul de Moçambique. A brigada, transportando centenas de camponeses, viu-se, durante mais de catorze horas, completamente desorientada ao não encontrar o lugar real de reassentamento, porque a população, não atinava com os marcos que identificavam o espaço, como seja a árvore, o cemitério, o bosque.

O espaço de preservação da memória destas populações havia se eclipsado com a guerra. No lugar do bosque, da árvore ou do cemitério familiar, encontraram a natureza no seu estado selvagem, indomesticada. Para os funcionários do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, na maioria moçambicanos contratados, a história entrou no anedotário local. Para eles, a reivindicação do espaço identitário da população não tinha sentido em presença da terra e da distribuição de panelas, mantas e instrumentos de produção. O importante estava em garantir à população os bens materiais essenciais à retoma da vida. Não lhes importava os referentes perdidos, os esteios à perenidade da memória. Este desencontro, desconhecimento, distanciamento e, o mais angustiante, desprezo para com a realidade identitária de parte considerável do tecido social do país, patente nos funcionários, estendia-se, a diferentes amplitudes, a toda a classe administrativa do país e, mais grave ainda, ao poder político que se apressava a dar substância à separação e interdependência de poderes consagrados na nova constituição que proclamava os direitos, garantias e liberdades individuais.

Apercebi-me, nesse momento de euforia, de encantamento com a paz, de deslumbramento com a conquista das liberdades individuais, que o nosso país se construía sobre os cacos de identidades esfaceladas, esquecidas, detestadas. E este assassínio, desculpem a impiedade do termo, teve a cumplicidade do poder político ao tempo da proclamação da independência.

Com a proclamação da independência esperava-se que as identidades circunscritas ao universo étnico ganhassem, no espaço soberano da pátria, a liberdade e o direito de confrontarem-se com identidades afins.

AS LÍNGUAS E A IDENTIDADE

O nosso país tem, segundo dados de recenseamento recente, cerca de vinte e três línguas de origem bantu que veiculam todo o universo cultural de etnias afins. Sabe-se que no período colonial, por mão de igrejas protestantes, houvera um esforço de fixação escrita das línguas, permitindo uma crescente alfabetização das populações, manifesta no fácil trato com a literatura religiosa amplamente traduzida nas línguas locais. Este esforço, embora centrado ao universo étnico, numa geografia precisa, teve o impacto de fazer chegar aos dias de hoje uma literatura que porventura se teria perdido com o tempo. Acresce-se a isto, embora reduzido a militância de poucos, o esforço de missionários católicos em recolher contos e provérbios, em elaborar dicionários e gramáticas das línguas veiculares das populações. Em consequência, era de se esperar que com o advento da independência estas iniciativas, ilhadas ao universo étnico, tivessem cidadania plena, gozando, por conseguinte, do direito de circulação e consequente confrontação com outras realidades culturais. Esperava-se que a secular presença islâmica e indiana, reduzida a nichos culturais bem delimitados, ganhasse outra amplitude no solo pátrio, de modo a que, por exemplo, as especiarias e outros aromas, enraizados ao longo da costa, se embrenhassem pelo sertão adentro e se incrustassem no adobe das palhotas da nossa existência. Esperava-se que a língua portuguesa, língua da unidade e do desenvolvimento, partilhasse o seu espaço hegemónico na educação, na informação, nos espaços públicos e privados, com outras línguas, tal como aconteceu nos princípios do século XX, quando na reduzida cidade de Lourenço Marques havia espaço para um jornal Bilingue, português/ronga, o Africano e, posteriormente, o Brado Africano, e um diário em língua inglesa, o Lourenço Marques Guardian. A língua portuguesa nunca saiu beliscada desse convívio multilingue. Com a independência esperava-se, enfim, que as várias identidades ganhassem cidadania e contribuíssem, na sua diversidade, para a construção do tecido identitário moçambicano. Mas tal não aconteceu.

O governo da época, sob a batuta dos heróis da gesta nacionalista, transladou o princípio reinante nas zonas libertadas de matar a tribo para construir a nação. O terceiro congresso da Frelimo, acontecido dois anos depois da independência, 1977, veio legitimar a uniformização cultural e ideológica como condição única para a Unidade Nacional. Estavam criadas as condições para o esbatimento da memória local e de identidades que há muito procuravam cidadania para além do espaço étnico, graças a crescente urbanização do território.

Pergunto-me hoje se é possível aquilatar as consequências do silenciamento oficial das memórias identitárias que buscaram a luz da perenidade com a independência do país? Nunca teremos a resposta adequada. Mas os sinais de que o monolitismo decretado era um erro de consequências imprevisíveis veio em forma de relatório do Comité Central da Frelimo, em 1983, em vésperas do IV Congresso, ao fazer constar que “É grande a nossa diversidade étnica e linguística. Foram diversas as formações sociais pré-coloniais, cada uma com as suas características próprias. A dominação colonial abateu-se sobre a totalidade do nosso país, mas afectou de formas diferentes as diversas regiões de Moçambique.

(…) Hoje, liberto o país, devemos lutar contra a tendência simplista de recusar a diversidade como forma de realizar a unidade. Fazer isso é considerar, erradamente, que a diversidade é um elemento negativo da criação da unidade nacional; é pensar, erradamente, que a unidade nacional significa uniformidade.”

Mas o medo há muito que havia se instalado no país. As identidades que a custo sobreviveram a seculares tentativas de esmagamento, fecharam-se nos seus nichos de sobrevivência. A guerra que se disseminava pelo território fez uso destes erros infantis cometidos pelos guerrilheiros da gesta.

Moçambique não se encontrou. Devo dizer, embora existam teorias em contrário, que o papel do Estado é fundamental na libertação de iniciativas que conduzam a cidadania plena. E os primeiros anos de independência foram fulcrais na definição da pauta da nossa sinfonia cultural. Esmagamos as notas da diversidade, silenciamos as vozes que vinham das furnas do tempo e, movidos por pretensões ideológicas de difícil sustentação, tentamos erigir um corpo, permitam-me o empréstimo, sem ADN, incaracterístico, insosso, descolorido, de voz monótona, desenraizada, totalmente à deriva. Perdemos, na euforia da libertação, a oportunidade de libertar a memória e de traçar, com inteira liberdade, o nosso destino cultural.

José Luís Cabaço, político e académico moçambicano, na sua tese de doutoramento, Moçambique – Identidades/Colonialismo e libertação, não se aventurou ao período pós-independência, mas teve a clareza de afirmar que a identidade, sendo sempre em processo, em permanente dialéctica com o passado e com o Outro, não se conclui e nunca assume o perfil dos modelos prescritivos. (…) esses modelos tendem  a criar um novo tipo de conflitualidade social e psicológica entre a representação da identidade nacional unitária e a vida real do cidadão, problema que se agrava nas sociedades africanas pós-coloniais pela sobrevivência da estrutura tendencialmente dualista herdada da colonização…

Até hoje, trinta e cinco anos depois da independência, ainda se discutem as várias formas de grafar as línguas locais. De um seminário a outro, as elites vão debulhando ideias que ficam em letra morta nos relatórios que ninguém lê. As universidades, melhor, a universidade pública Eduardo Mondlane, vai ensaiando cursos que legitimam educadores das línguas de base étnica. De tempos a tempos, ouve-se falar de uma experiência em ensino nas línguas locais. Pouco ou nada é publicitado. São iniciativas a saca-rolha. E, no meu entender, estão a margem da dinâmica da sociedade que se acultura acriticamente aos valores que a globalização vai, sem freios, difundindo pelos cantos mais remotos.

As elites recusam-se, à luz do dia, a dar cidadania aos valores circunscritos às suas etnias. Outros grupos, sem identificação étnica, escusam-se a trazer à luz os valores que herdaram de gerações e gerações que se foram fixando no solo pátrio. Mas todos falamos de uma diversidade a que desconhecemos os contornos específicos.

No campo que me diz respeito, literatura, tenho acompanhado algumas perversões a que os tempos modernos me dão a assistir. Volta e meia, leio aqui e ali, frases como segundo a nossa literatura oral, fazendo fé nas nossas tradições orais, socorrendo-me dos saberes transmitidos à volta da fogueira, e ecaetera. Pergunto-me: essa literatura oral está sendo transmitida por quem e em que espaços? Que valores se transmitem nessa literatura? Quando falamos da tradição de que tradição falamos?

Creio que as elites culturais e políticas do meu país ainda não se encontraram quanto ao objecto ou referência dos seus espaços identitários. Sou da opinião de que só posso falar da tradição quando esta me é posta a ouvir, ler e consumir. Quando quero falar da minha tradição, do meu passado, tenho que me ater a valores que me estão próximos e dos quais me confronto diariamente, interpretando-os de diversos ângulos quando, a palavra é bonita, em alteridade. Mas esses valores não estão comigo. E se estão, actuam subliminarmente. O que me é dado a ver e consumir não passa de arremedos baratos e descartáveis de valores e memórias dum tecido cultural que se vai esboroando. Os nossos filhos, especificamente os da faixa urbana, geração imediata à independência, perderam por completo o contacto com as línguas maternas dos pais ou avós; as âncoras da identificação cultural circunscrevem-se, a título de exemplo, aos modismos culturais hoje em voga, como o lobolo praticado nos casamentos modernos, os ritos de iniciação na floresta do cimento, as oferendas aos espíritos em árvores tornadas sagradas nas inaugurações de edifícios públicos e outros empreendimentos de cariz económico e social, e pouco mais. Não há uma literatura difundida desses fenómenos.

Nunca houve, nestes anos de secura cultural, um esforço concertado de, ao menos, propagar, por diversos meios, a literatura recolhida em tempos, ou a que, militantemente, foi acolhida por instituições culturais. Desde a alvorada da nossa independência que os currículos escolares não fazem constar provérbios e contos que espelhem o universo cultural moçambicano. Quando falamos de tradição, de memória, de que tradição e memória falamos?

Diz-se, em provérbio Macua, língua falada na região norte de Moçambique, que A cobra trepa sem ter pernas – Enowa enniwela ehi mettó. Mais a sul, entre os Tsonga, diz-se: Pessoa calma (silenciosa) é cobra- Munhu wo rhula i nyoka. Há aqui duas formas distintas de assumir o símbolo cobra. Para os macuas, a cobra representa versatilidade, uma capacidade invulgar de realizar determinadas actividades. Nos tsonga, pelo contrário, a cobra simboliza periculosidade; ela é o símbolo da falta de transparência, da astúcia, dos jogos de bastidores. Estes exemplos demonstram a diversidade cultural existente no meu país que não se reflecte na escola, símbolo da cidadania. As pessoas falam da tradição, mas pouco ou nada dela sabem. E o tempo vai aniquilando esses valores a que as elites se recusam a dar cidadania plena.

Várias explicações têm vindo à tona para este alheamento às realidades culturais locais. Em muitos há o medo de se perder o chão da moçambicanidade, pois temem que ao se falar da tradição, esteja-se a falar da pretização das instituições, da balcanização de um país que se pauta pelo princípio da universalidade e igualdade inscrita nos direitos, deveres e liberdades fundamentais, consagrados na constituição. Para este grupo, falar da tradição é um retrocesso, um nacionalismo redutor. Para outros, com desmedidos apetites políticos, a tradição, os valores de uma etnia, são um passaporte válido para a cidadania política, para uma carreira sem aferição de qualidade. E para muitos, a tradição não passa de um espaço arqueológico não catalogado. E todos, o que é triste, sejam grupos étnicos ou outros espaços identitários que secularmente se sedimentaram no país, não vêem a tradição como espaço de memória interpretando-se continuamente face a outras memórias em plena cidadania. E esta cidadania é conquistada hoje, na escrita, na televisão, na rádio, nas campanhas de saúde pública, nos intérpretes com direito igual aos de outras línguas soberanas que campeiam em salas repletas de auriculares, enfim, em todas os cantos e recantos.

A cidadania que se quer às diversas identidades ou tradições, é a de abertura desses espaços a outros valores próximos e distantes. Tem-se dito, e eu perfilho, que é na troca dos paladares, dos valores culinários, que a diversidade cultural ganha o primeiro grande patamar de convívio são. Se a saudosa Natália Correia dizia que a poesia é para se comer, direi que as identidades devem ser degustadas até ao tutano, para que a diversidade cultural não seja de facto um tigre de papel neste mundo globalizado.

E muito obrigado.

*Comunicação apresentada, em Coimbra, no Colóquio Internacional “Portugal entre Desassossegos e Desafios”.

Literatura: Vera Cruz lança “Linhas de Fuga”, uma colectânea de longas crônicas de viagem

Posted in Crónicas de Viagem, Literatura, Moçambique with tags on 9 de Abril de 2010 by gm54

“Linhas de Fuga” é o título da nova obra literária do escritor, jornalistas e docente universitário, Germano Vera Cruz, a ser lançado no próximo dia 14 de Abril, no Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM), em Maputo. Trata-se de um livro de crónicas de viagem à França, Swazilândia, Japão, Finlândia, Moçambique e Brasil.

Editada pela Imprensa Universitária, a obra é uma colectânea de longas crónicas de viagem que tratam de experiências pessoais do autor na relação com os povos locais, abordando igualmente aspectos socioculturais desses países.

As crónicas já foram publicadas em jornais ou revistas nacionais e estrangeiras.

“Conto as minhas experiências de viagem de maneira lúdica, com muito humor, utilizando para o efeito uma linguagem bastante criativa”, disse Vera Cruz.

“Como vivi durante muitos anos na França, quando vinha de férias a Moçambique observava o meu próprio país, de certa maneira, como um estrangeiro. Daí que eu tenha escrito também algumas crónicas de viagem sobre Moçambique, uma das quais consta do livro”, explicou.

O autor realçou ainda que este livro é o primeiro volume do género. “Se tudo correr bem, próximo ano pretendo publicar um livro que será o segundo volume.

Nele constarão crónicas de viagem à Itália, China, Coreia do Sul e do Norte, Estados Unidos, Rússia e Austrália. Aliás, as referidas crónicas já foram todas escritas”.

O livro a ser lançado é o quinto livro publicado pelo autor (entre os quais livros científicos, romances e um livro de poesia), sendo o terceiro a o ser feito em Moçambique, dado que os restantes dois foram publicados em francês, na França.

Obra de Mia Couto será debatida num congresso na Bélgica

Posted in Literatura, Moçambique, Poesia with tags , on 10 de Fevereiro de 2010 by gm54

Um congresso internacional sobre a obra de Mia Couto vai decorrer na Antuérpia, Bélgica, de 23 a 25 de Março, organizado pelo Instituto Superior de Tradutores e Intérpretes da Bélgica com o apoio do Instituto Camões.

Comunicações de especialistas de diversas universidades da Europa e América serão apresentadas, incluindo da Universidade da Sorbone de Paris, da Universidade de Caen da Normandia (França), a Universidade de Bucareste (Roménia), Universidade de Utrech (Holanda), a Universidade Koln (Alemanha), Universidade Federal de Pernambuco (Brasil), Universidade de Berkeley (Inglaterra), bem como as universidades portuguesas de Viseu, Lisboa, Porto e Trás-os-Montes.

No final do primeiro dia, inteiramente dedicado à análise da obra do escritor moçambicano, será exibido o filme Terra Sonâmbula que venceu diversos prémios internacionais de cinema.

Mia Couto vai estar presente no colóquio.

A primeira do evento será dedicada à tradução da obra de Mia Couto. “Serão escolhidos dois livros entre a obra do autor e serão convidados alguns dos tradutores destes textos, para participarem em mesas redondas”, segundo uma nota dos organizadores.

A segunda vertente “será centrada na análise da obra do autor”. Nessa parte, pretende-se abordar especificamente os temas como o trabalho/o jogo com a linguagem na obra de Mia Couto, bem como o seu processo narrativo, a literatura e a constituição de uma identidade (linguística, cultural e/ou política) moçambicana e a tradução, a divulgação e a internacionalização da obra do escritor moçambicano.

Além das comunicações seleccionadas, estão também previstas palestras por Mia Couto, Ana Mafalda Leite e Alberto Carvalho.

Os organizadores lançam um apelo à apresentação de comunicações numa das áreas temáticas do colóquio, devendo a intenção de apresentar uma comunicação acompanhada de um título provisório ser apresentada até 1 de Novembro de 2009.

Obra inacabada de Graham Greene vai ser completada por leitores

Posted in Literatura with tags , , on 21 de Julho de 2009 by gm54

Graham Greene

Um romance inacabado de Graham Greene (1904-1991) está a ser publicado numa revista norte-americana durante este mês, que convida os leitores a terminarem o enredo. “The Empty Chair” (“A Cadeira Vazia”, numa tradução literal), com apenas cinco capítulos concluídos pelo autor e cerca de 22 mil palavras, conta a história de um assassinato misterioso.

O enredo começa quando Alice Lady Perriham, uma actriz casada com um aristocrata, dá uma festa em sua casa, onde os convidados encontram o corpo do “taciturno, mal-humorado, bruto” Richard Groves, com uma faca espetada no peito.

A obra aproxima-se das histórias de misteriosos assassinatos cometidos em casas de campo típicos de Agatha Christie. Mas “a história de Graham Greene tem uma reviravolta única”, conta Andrew Gulli, editor da revista “The Strand Magazine”, que está a publicar o romance.

O autor iniciou o romance em 1926, quando tinha apenas 22 anos. Mas “o estilo da caracterização de Graham Greene está lá”, diz Gulli. Descoberto no ano passado por François Gallix, estudioso das obras de Greene, no Centro de Humanidades na Universidade do Texas, o texto marca um ano importante na vida do escritor, pois, segundo o seu biógrafo, foi quando se converteu ao catolicismo, começou a trabalhar como subeditor no jornal londrino Times e decidiu tornar-se um escritor de sucesso.

“The Strand Magazine” irá publicar um capítulo por semana nas próximas cinco edições e está a ponderar lançar um concurso para completar a história. “Se estiverem interessados em encontrar um autor (para terminar o romance), isso será óptimo; se quiserem fazer um concurso com os leitores, também será excelente”, continua o editor da revista, inspirada numa publicação do final do século XIX que tratava mistérios fictícios como os de Greene, Christie, Rudyard Kipling e Arthur Conan Doyle.

Graham Greene é mundialmente conhecido por obras como “O Condenado”, “O Nosso Agente em Havana”, “O Poder e a Glória”, “O Americano Tranquilo” e “Monsenhor Quixote”.

Autor Dan Brown muda para Washington por novo livro

Posted in Literatura, Religião with tags , , , on 9 de Julho de 2009 by gm54

Capa do Livro "O símbolo perdido"

Capa do Livro "O símbolo perdido"

O autor Dan Brown está de mudança para Washington para continuar com a sua bem-sucedida série de livros sobre a teoria da conspiração O Código Da Vinci.

O último romance de Brown, O Símbolo Perdido, será lançado a 15 de setembro e de novo retrata o simbologista fictício de Harvard Robert Langdon, numa história que se realiza num período de 12 horas.

O local e a trama do livro estavam guardados em segredo até que a editora lançou duas capas do livro nesta quarta-feira, no início de uma campanha promocional que inclui palavras cruzadas online e códigos.

A capa norte-americana do livro traz uma imagem do Capitólio com um lacre de cera vermelho contra um fundo de símbolos, enquanto a capa na Grã-Bretanha e na Austrália traz o Capitólio e uma chave.

O editor de Brown nos Estados Unidos, Jason Kaufman, da Knof Doubleday, uma marca da editora Random House, disse em um comunicado que o livro é “em grande medida” passado em Washington, mas “é uma Washington pouco reconhecida”.

“Como podemos esperar, o escritor tira o véu – revelando um mundo não visto de misticismo, sociedades secretas, e locais escondidos… que mostra uma época anterior da América”, disse Kaufman.

O Símbolo Perdido terá 6,5 milhões de cópias na primeira impressão em língua inglesa – a maior impressão da Random House, uma unidade do grupo alemão Bertelsmann AG.

O Código Da Vinci teve mais de 81 milhões de cópias impressas desde seu lançamento em 2003 e ficou no topo dos livros mais vendidos no mundo todo, com uma história que despertou indignação no Vaticano e em muitos católicos devido à história ficcional sobre conspiração na Igreja.

Mia Couto no Brasil para lançar o livro “Antes do Sol Nascer”, “Jerusalém” em Moçambique

Posted in Literatura with tags , , on 29 de Junho de 2009 by gm54

Mia Couto

O escritor, jornalista e dramaturgo moçambicano Mia Couto está desde quinta-feira no Brasil – primeiro em São Paulo para lançar o seu novo romance -, e depois no Rio de Janeiro para ser homenageado.

O livro, que é lançado simultaneamente em vários países, tem uma particularidade: em Moçambique, Angola e Portugal chama-se Jerusalém; no Brasil tem como título Antes de Nascer o Mundo.

O romance conta a história de um lugar, Jerusalém, onde vive o que restou da humanidade e de Silvestre Vitalício, dos seus dois filhos, um tio dos rapazes e um empregado.

À “Folha de São Paulo”, o escritor explica: “No interior de Moçambique deparei com famílias que viviam numa quase completa condição de marginalidade. Estavam aparentemente longe de tudo. Trabalhei com essas comunidades e reparei sempre que, depois de um primeiro olhar, a ligação umbilical com o mundo de hoje estava presente”. É dessa ligação que Vitalício, o líder do pequeno lugar, tenta sair. Mais concretamente das recordações que o mundo real lhe traz – a morte de Dordalma, mãe dos seus filhos.

A tentativa de apagar o passado é também uma fuga da guerra que fez um milhão de mortos no país.

“Os moçambicanos escolheram o esquecimento. Quem hoje viaja pelo país não sente sinal nenhum dessa guerra. Esse esquecimento é uma sabedoria, uma percepção de que os demónios do passado ainda não foram enterrados. Mas é um falso esquecimento, como quase sempre sucede com os lapsos de memória”, diz Couto à “Folha de São Paulo”.

Depois de ter participado, sexta-feira, num debate no Sesc Avenida Paulista, é a vez de ser homenageado, dia 3 de Julho, no Festival de Teatro da Língua Portuguesa. A partir de 12 Julho, Mia Couto estará em Portugal para o lançamento de Jerusalém.

Mia Couto, 54 anos, lançou 23 livros e ganhou muito prémios, entre os quais o Virgílio Ferreira (1999), União Latina de Literaturas Românticas (2007) e o título de um dos 12 melhores livros africanos do século XX com Terra Sonâmbula.

O Haver

Posted in Literatura, Poesia with tags , on 4 de Março de 2009 by gm54

Essa intimidade perfeita com o silêncio

Essa intimidade perfeita com o silêncio

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
– Perdoai! eles não têm culpa de ter nascido…

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo que existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil.

Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa tola capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será e virá a ser
E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante.

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
Na busca desesperada de uma porta quem sabe inexistente
E essa coragem indizível diante do grande medo
E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio
Pelo momento a vir, quando, emocionada
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.

Vinicius de Moraes

Salman Rushidie e a somba da “Fatwa”

Posted in Literatura, Religião with tags , on 16 de Fevereiro de 2009 by gm54

A "Fatwa" não foi um incidente isolado

Salman Rushidie: A "Fatwa" não foi um incidente isolado

Fez 20 anos que no Irão, o “ayatollah” Khomeini condenava à morte Salman Rushdie por causa do seu livro “Os Versículos Satânicos”, julgado “blasfemo contra o islão”

Vinte anos depois do ayatollah Khomeini ter proclamado, na Rádio Teerão, uma fatwa (decreto islâmico) de condenação à morte do escritor indo-britânico Salman Rushdie por causa do carácter “blasfemo contra o Islão” do seu livro Os Versículos Satânicos, as autoridades iranianas anunciaram semana passada que aquela disposição, datada de 14 de Fevereiro de 1989, continuava válida.

“Em nome de Deus todo-poderoso… Quero informar todos os muçulmanos que o autor do livro Os Versículos Satânicos… foi condenado à morte. Apelo a todos os muçulmanos zelosos a executar este decreto rapidamente. Que Deus vos abençoe a todos.”

Foi assim que há exactamente 20 anos, Khomeini, o guia supremo da revolução islâmica (falecido logo a seguir, em Junho), pronunciou a sua sentença contra Salman Rushdie. E foi oferecida uma recompensa a quem matasse o escritor, que vivia na Grã-Bretanha e teve que mergulhar na clandestinidade, passando a estar sob protecção policial e transformando-se num símbolo da liberdade de expressão. Desde então, Rushdie, de 61 anos, ainda recebe, todos os anos, nesta data, “uma espécie de cartão do Dia dos Namorados” do Irão, para lhe recordar que não foi esquecido o voto de morte.

Publicado em Setembro de 1988, Os Versículos Satânicos (o título refere-se a uma discutida tradição muçulmana segundo a qual Maomé acrescentou versículos de inspiração diabólica ao Alcorão, que mais tarde retirou, ao perceber a sua maléfica influência) causou controvérsia imediata no mundo islâmico, pelo que diziam ser uma representação irreverente e blasfema do profeta Maomé, entre outros elementos gravemente ofensivos.

A obra foi banida em muitos países com grandes comunidades islâmicas, e a sua publicação, acrescentada à fatwa, desencadeou protestos, manifestações e actos de violência em todo o mundo, incluindo o incêndio de livrarias e queimas do livro “blasfemo”. Em Março de 1989, o Irão e a Grã-Bretanha romperam relações diplomáticas por causa de Salman Rushdie. Em 1998, as autoridades iranianas disseram que não iriam aplicar a fatwa, e Rushdie saiu enfim da sombra. O autor, que rejeitou o Islão na adolescência, diz que nunca lamentou ter escrito Os Versículos Satânicos e que a fatwa não foi um “incidente isolado”, mas sim “o prólogo” de uma longa história que começou com o 11 de Setembro de 2001, nos EUA, e cujo capítulo mais recente são os atentados de Bombaim, em Novembro de 2008.

Parlamento argentino decide até ao final do mês se repatria restos mortais de Jorge Luís Borges

Posted in Literatura with tags , on 13 de Fevereiro de 2009 by gm54

Querem-no de volta a casa

Querem-no de volta a casa

Uma deputada do Partido Justicialista argentino, da Presidente, Cristina Kirchner, vai apresentar este mês um projecto de lei para fazer regressar à Argentina os restos mortais do escritor Jorge Luís Borges, sepultado em Genebra (Suíça).

María Beatriz Lenz defende que o momento ideal para a transladação seria Agosto, quando se completam 110 anos sobre o nascimento do autor de Ficções. A deputada cita, em comunicado, uma frase de Borges para ilustrar que o próprio escritor manifestou o desejo de ser sepultado no elegante Cemitério da Ricoleta, em Buenos Aires. “Não passo pela Ricoleta sem recordar que ali está sepultado o meu pai, os meus avós, tetravós, e que eu também estarei“, sublinhou em declarações que estão agora publicadas em antologias pessoais.

A ideia, que divide opiniões de Buenos Aires, é contestada pela viúva do escritor, Maria Kodama. “Numa democracia, nenhuma pessoa de nenhum partido pode dispor ou tentar dispor do corpo de outro ser humano, que é o mais sagrado, perante outra que continua a dedicar a sua vida ao amor“, declarou a uma rádio da capital argentina.

Jorge Luís Borges faleceu a 14 de Agosto de 1986, em Genebra, na Suíça. Kodama frisou que a vontade de autor de Livro de Areia era apenas “descansar em paz“. “Estou terrivelmente triste com tudo isto que está a acontecer“, manifestou a escritora.

Em sentido oposto, o presidente da Sociedade Argentina de Escritores, Alejandro Vaccaro, sustenta que “a repatriação de Borges” é uma “dívida que a Argentina há muito tem para com o escritor“.
O projecto defendido pela deputada María Beatriz Lenz conta já com o apoio do presidente do Parlamento, Alfredo Fellner.

Fim da linha para o autor que fez um Coelho corer

Posted in Literatura with tags on 28 de Janeiro de 2009 by gm54

Uma das escritas que melhor descreveram a America

Uma das escritas que melhor descreveram a America

O escritor John Updike faleceu ontem aos 76 anos. Acusado de racista, misógino e pró-sistema no pós-guerra do Vietname, o autor fecha mais um capítulo dos grandes criadores norte-americanos do século XX. Ganhou dois Pulitzer e seduziu milhões de leitores com narrativas sobre sexo, religião e arte.

Gostava de escrever para as clássicas revistas literárias como a The New Yorker e a The New York Review of Books mas, ontem, foi no mundo virtual que a biografia de John Updike foi actualizada quase imediatamente ao ser-lhe acrescentada à data 18 de Março de 1932 aquela que ainda faltava: 27 de Janeiro de 2009. A notícia da morte de um dos mais prolixos escritores norte-americanos não foi inesperada porque era conhecida a sua luta de há algum tempo contra um cancro de pulmão.

Com o anúncio da morte de John Updike cala-se uma das escritas que melhor descreveram a América durante o século XX e que fazia questão de afirmar abertamente que se posicionava ao centro nas questões que afligiram o cidadão médio do seu país. “Gosto de estar ao meio, é aí que os extremos se anulam e onde a ambiguidade não governa”, dizia quando o questionavam sobre os assuntos que mais dividiram o seu tempo.

John Updike utilizou várias expressões literárias. Foi romancista, novelista, ensaísta, autor infantil e poeta. Apesar de ser escritor não deixou de se pronunciar sobre as obras de outros autores ao longo de uma carreira que também se ocupou da crítica literária. A atestar a sua originalidade está o facto de ser dos poucos que bisou o Prémio Pulitzer e o National Book Awards mas, apesar da uma extensa produção, John Updike não se livrou da forte marca da sua série protagonizada pelo senhor Harold “Rabitt” Angstrom e foram os títulos com o “Coelho” que o popularizaram em todo o mundo.

Os romances sobre este Coelho incorporavam as dúvidas que o próprio, na sua autobiografia, referia como sendo as mais importantes para o ser humano: a arte, a religião e o sexo. Nesse quarteto iniciado com Corre, Coelho (Rabbit, Run), Updike fez o retrato do percurso de um homem ao radiografar as tradicionais situações do emprego, do casamento, dos casos extraconjugais, dos pequenos sucessos de uma vida e, finalmente, da morte.

Antes de chegar o reconhecimento mundial com esta série, o escritor publicou pela primeira vez, em 1959, o título The Poorhouse Fair. Depois, a vida nos subúrbios americanos, os efeitos da Depressão económica, a herança moral da II Guerra Mundial dominaram a sua obra. Os conflitos sociais originados com a guerra do Vietname, as lutas dos estudantes, a emancipação das mulheres e os direitos dos negros encaixaram-no no sistema e foi violentamente criticado por ser “racista” e “misógino”. Antes de se dedicar à escrita, profissão em que jurou escrever todos os anos um livro, John Updike foi jornalista. Tinha 76 anos.