Arquivo de Timbila

Música tradicional moçambicana: “Timbila ta Venâncio”: Testemunho e consagração do icone da timbila

Posted in Moçambique, Uncategorized with tags , , , on 28 de Maio de 2010 by gm54

A Música chopi, figurada na timbila, registou esta semana mais um momento alto da sua secular história. O seu ícone, Venâncio Mbande, aos 80 anos de idade, lançou segunda-feira (21 de Maio, Dia Mundial da Diversidade Cultural), em Maputo, o seu primeiro disco compacto, com o título génerico “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”.

Trata-se de uma obra prima que em si encerra a dimensão de Venâncio Mbande, enquanto músico e precursor deste instrumento tradicional que da província de Inhambane, sul de Moçambique, granjeou simpatia em todo o mundo e hoje é Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O disco, com um total de onze faixas que retratam musicalmente a vivência e sonhos de Venâncio Mbande, é assumido desde já como a sua maior consagração.

Conta-se que este não é o primeiro registo discográfico. Logo após o seu regresso ao país e com base num estúdio móvel de 24 pistas, o músico e produtor finlandês Eero Koivistoin registou na casa do próprio Venâncio Mbande, a primeira obra intitulada “Timbila Ta Venâncio”, a qual foi editada pela NAXOS WORLD.

São escassas as informações sobre a circulação deste disco no mercado, entretanto, o que se afirma é que a NAXOS não produz para fins comerciais, mas sim funciona como depositária dos maiores clássicos do mundo.

Sob influência do seu tio e outros familiares, Venâncio Mbande aprendeu a tocar timbila aos 6 anos de idade e aos 18 anos, emigrou para África do Sul para trabalhar nas minas de Ouro. Foi neste país que em 1956, criou a sua própria orquestra e começou a compor as suas próprias músicas, começando assim, a sua grande ascensão como um dos maiores mestres de música Chopi.

Foi ainda a partir da vizinha África do Sul que Venâncio Mbande catapulta a música Chopi para os vários quadrantes do globo, particularmente depois do lançamento em 1948 do livro “Chopi Musicians”, escrito pelo etnomusicólogo Hugh Tracey. Diz-se que o livro contribuiu bastante para o reconhecimento internacional da música Chopi.

Mas foi com o apoio do professor de etnomusicologia Andrew Tracey, filho de Hugh Tracey que Venâncio Mbande se tornou no maior mestre de timbila conhecido no mundo, tendo actuado em muitas cidades importantes da Europa, e a sua música ou filmes, constam dos arquivos das mais importantes bibliotecas e arquivos espalhados pelo mundo inteiro.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

Conforme disse David Abílio, director geral da CNCD, entre essas figuras, destaque vai para o Venâncio Mbande, considerado o maior ícone de timbila. “Nós somos testemunhos disto. Nas nossas viagens, pelo mundo fora por curiosidade, visitamos bibliotecas e arquivos especializados em música e dança, para sabermos que informação dispunham de África e em particular de Moçambique. E encontramos com surpresa e satisfação, músicas gravadas e imagens de Venâncio Mbande, as vezes como a única referência de Moçambique”, anotou David Abílio, afirmando que prova maior da presença universal de Mbande foi a proclamação de Timbila pela UNESCO em 2005 como Obra Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade.

O Primeiro-Ministro moçambicano, Aires Ali presente na cerimónia oficial do lançamento do disco, apelou a dado passado do seu discurso, a união de esforços para que haja mais registo de obras de Venâncio Mbande, não só sob forma de disco, mas também de filme.

É interesse que a obra daquele ícone de timbila seja cada vez mais difundida e que sirva de bandeira da moçambicanidade. Aliás, Aires Ali disse que nas suas visitas de trabalho quer dentro ou for a do país, vai lever sempre consigo o disco de Venâncio Mbande.

De referir que depois da cerimónia oficial de lançamento do disco nas instalações do Centro Cultural Franco Moçambicano, Venâncio Mbande e a sua orquestra constituída foi 20 elementos, fizeram-se ao palco principal da “Aldeia Cultural” para apresentação ao grande público do novo álbum “Made in Mozambique”.

Indica-se que além da CNCD, da Ekaya Productions, o disco foi registado e produzido com o patrocínio da MOZAL, contou com o apoio da UNESCO e do Centro Cultural Franco Moçambicano.

Entretanto, o disco “Timbila Ta Venâncio – Ao vivo no Teatro África”, produzido sob a chancela da editora nacional “Ekaya Productions”, liderada por João Carlos Schwalbach”, surge no âmbito das celebrações dos seus 30 anos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e foi igualmente associado ao Festival Aldeia Cultural que decorre desde a última sexta-feira, na capital do país.

É forma de reconhecimento e homenagem da CNCD àqueles que com o seu talento e criatividade contribuíram para o desenvolvimento da cultura, criando um ambiente favorável para a prática e massificação das actividades culturais.

Música – TIMBILA TA GWEVANE : Viagem pelo Índico à busca de intercâmbio

Posted in Uncategorized with tags , , on 10 de Dezembro de 2008 by gm54
Timbila de Moçambique, património da humanidade

Timbila de Moçambique, património da humanidade

UM grupo de jovens dançarinos e tocadores moçambicanos deslocou-se recentemente para a Ilha Reunião numa digressão que tinha como objectivo a troca de experiências e o intercâmbio cultural entre os artistas que fazem parte dos países banhados pelo Índico.
Numa viagem em que estiveram fora do país por mais de 10 dias, o grupo começou por se deslocar à Suazilândia, onde trabalhou com artistas locais, particularmente dançarinos. Depois, com os suazis partiram para a África do Sul, tendo ficado a trabalhar com vários grupos de canto e dança daquele país. Os trabalhos iniciaram na cidade de Durban e depois todos se deslocaram para Joanesburgo, donde depois partiram para a Ilha Reunião. O grupo moçambicano era composto por oito elementos, sendo seis homens e duas mulheres e tinha como chefe da equipa Bob Mahuaie, líder da banda Timbila ta Gwevane. Bob Mahuaie explicou que uma das razões que motivou esta digressão para a participação num festival que já tem tradição na Ilha Reunião no mês de Novembro tem a ver com a necessidade de manutenção dos ritmos e sistemas tradicionais, sobretudo aqueles que são assentes no toque, no canto e na dança e nos motivos que há por detrás da preparação dos instrumentos tradicionais utilizados nessas manifestações culturais.

Ganhos da participação

De Moçambique, o prato forte que os jovens levavam era a Timbila, os Tambores e várias danças tradicionais.
O nosso interlocutor observa que países como a África do Sul, a Suazilândia, e outros ilheus como Mayotte e Seychelles tem uma componente forte na preservação da sua cultura tradicional, comparativamente ao que tem acontecido nos últimos anos entre nós. A tendência no nosso país, diz, é de uma estilização daquilo que é tradicional para dar azo a coisas fúteis e supérfluas que não têm enquadramento naquilo que é de raiz.
“O que nós descobrimos é que esses são países que se preocupam em preservar o seu rico e vasto património cultural. Por outro lado, eles têm diversos festivais, alguns até que chegam às localidades, aos distritos e às províncias. E nós não temos esse tipo de eventos, para além de que dependemos somente de efeméride para sair à rua e realizar coisas pequenas”, lamenta.
Refere que foram ovacionados os grupos culturais da África do Sul e da Suazilândia, sobretudo pela sua performance não só no palco, como pelos motivos que apresentaram uma vez que tanto o canto, como a dança, os instrumentos, a mensagem e a indumentária personalizam a vida cultural tradicional dos seus países. Nada está estilizado.
Para além dos tambores, que são os tradicionais batuques, e da timbila, o grupo levava consigo uma relação da timbila, do batuque com viola baixo, perfeitamente executada por Neuza Naiene.
Aliás, esta exímia baixista, Neuza Naiene, desloca-se ainda este mês para França, onde vai participar num festival cultural de música, canto e dança tradicionais. Neuza vai viajar em nome da banda Timbila ta Gwevane, que é um grupo que se dedica à produção de música tradicional. Neuza escalará aquele país europeu com mais uma colega, sendo que a sua partida está agendada para o dia 14 e o regresso a 24 do mês em curso.
“Esta viagem é produto da entrega e dedicação da nossa banda – Timbila ta Gwevane – , em parceria com o Município da Matola. Nós temos vindo a trabalhar juntos nossos últimos tempos, o que agradecemos sobretudo o apoio que temos recebido por parte do Município”, conta Bob Mahuaie.
Entretanto, um dos principais nós de estrangulamento desta banda é o facto de receber muitos convites para digressões no estrangeiro e mesmo para algumas províncias dentro do país, entretanto, não ter como dar encaminhamento a isso.
“Quando a gente mostra os convites para representarmos o país fora muito dizem que nós somos um grupo desconhecido. E nós nos perguntamos afinal não é trabalhando que nos vamos tornar conhecidos?”, questiona, ao mesmo tempo que revela que a sua banda já tem estatutos elaborados faltando apenas proceder ao registo no cartório notarial.
Quanto aos projectos futuros, o nosso entrevistado referiu que, para além de música tradicional, eles formaram um colectivo que está a trabalhar para a preservação do canto, dança e instrumentos tradicionais. Com esta equipa eles lutam pela preservação dessa componente tradicional.
Mas, também tem desenvolvido outras potencialidades, como a música de fusão, por exemplo, mas sem perder a base tradicional.
Actualmente, Timbila ta Gwevane é composto por 10 músicos, num grupo que conta já com uma formação de juniores, no qual estão petizes de 8 a 16 anos, entre bailarinos e músicos, ainda numa fase de aprendizagem.