No lugar agora ocupado por uma imponente estátua de Samora Machel, fundador da República de Moçambique, ergue-se um arco de alvenaria em estilo manuelino construído para comemorar o quarto centenário da morte do navegador português Vasco da Gama assinalado em 1924, data a partir da qual o jardim passou a ter esse nome. Do arco foram removidos as esferas e as cruzes de malta, símbolos do regime colonial português.
Com a independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975 o espaço passou a chamar-se JARDIM TUNDURU.
Considerado um dos mais belos jardins existentes nas ex-colónias portuguesas, o Tunduru data de 1885.
Tudo começou com um organismo que foi fundado na então Loureço Marques, hoje Maputo, nesse mesmo ano (1885) denominado Sociedade Arboricultura e Floricultura, tendo por objectivo a “Formação de um jardim e arborização do Pântano da vila de Lourenço Marques” que tinha ao tempo nove anos de fundação.
Essa Sociedade teve a sua primeira reunião na histórica Casa Amarela, na altura residência do governador do Distrito no dia 31 de Maio de 1885.
Do encontro foi lavrada uma acta na qual se exarou “tornou a presidência por acordo de todos o Dr. Sousa Teles, servindo de secretário Armando Longle. Exposto os fins da reunião, elegeu-se a mesa definitiva da sua assembleia geral que passou a ter a seguinte constituição: Presidente, Mesquita Pimentel; Vice-presidente, Dr. Sousa Teles. Secretários, Armando Longle e Gonçalves Pereira e Tesoureiro Correia de Oliveira”.
Dessa reunião saiu ainda uma comissão de trabalhos cuja finalidade seria propriamente a “factura do jardim e arborização do Pântano”. Dela passaram a fazer parte por eleição o major Joaquim Lapa, o comerciante Johanes Bang e o Dr. Sousa Teles.
Outros nomes que jogaram papel preponderante para a edificação do Jardim Tunduru: major Joaquim Lapa, Paulino Fornasini, Correia de Oliveira, O. da Silva, Xavier Lobo, Neto de Vasconcelos, Agostinho Pereira, Borges Pinto, Armando Longle, Moura, Pablo Perez, e Gomes Pereira.
A esta sociedade o governo da então Vila de Lourenço Marques fez a entrega, em Novembro desse ano, de “um terreno sito na Machamba dos Soldados e na Machamba do Governador” confrontando “ao norte com a estrada da Ponte Vermelha; Sueste com a vala de esgoto e a Noroeste com a Avenida projectada pela referida Sociedade” numa superfície total de pouco mais de treze hectares para que realizassem os seus fins”.
A 14 de abril de 1886, os idealizadores do espaço dirigiram uma carta ao engenheiro Joaquim José Machado, que se encontrava em Lisboa, pedindo-lhe o envio de plantas e sementes da Europa para o seu jardim.
Nessa carta, diziam que “O Jardim já estava feito no sítio onde existia a Machamba dos Mouros e tem um grande lago ao fundo que dessecou o terreno pantanoso; está todo cercado por fios de arame, com os terrenos do telégrafo, em cima está o “ lawn-tennis” onde jogam os sócios todos os dias”.
O entusiasmo dos construtores do jardim foi enaltecido num relatório do governador do Distrito, Azeredo e Vasconcelos, publicado no “boletim Oficial N. 4, de 22 de Janeiro de 1887, onde se pode ler: “A Sociedade de Arboricultura e Floricultura ajardinando uma parte do Pântano e a secção de Obras Públicas plantando de eucaliptos e de outras árvores uma outra, iniciaram um trabalho de que há a esperar os melhores resultados. Os homens a cujos louváveis esforços se deve ao impulso dado num sentido tão útil são: Joaquim José Lapa, Mesquita Pimentel, Dr. Sousa Teles e o chefe da secção de Obras Públicas, Armando Longle”.
Mas não foi preciso muito tempo para se reconhecer que a manutenção de um jardim público era encargo pesadíssimo para uma sociedade particular, por maior que fosse a dedicação dos seus sócios.
É o que se deduz, por exemplo, da seguinte local publicada na edição de 10 de Agosto de 1889 do Jornal “O Distrito de Lourenço Marques”:
…”Daqui a pouco vamos ter aqui uma banda de música, como já anunciamos aos nossos leitores.
Agora perguntamos: Qual é o local que melhor se presta para reunir a nossa sociedade e ouvir as composições dos primeiros maestros que se esperam? O Jardim tem sido muito abandonado, ninguém fez caso dele; e realmente é pena que assim seja, porque é ainda hoje o passeio mais aprazível da cidade.
O lago transformou-se em tanque, onde os Srs. Indígenas costumam fazer suas Abluções; A fonte faz concorrência à da Avenida D. Carlos e todo o resto está completamente descurado.
E, Contudo, parece-nos que é ali o melhor local para irmos ouvir a banda que se espera.
O Coreto para a música, principiado em tempos não se acabou por falta de meios e está a perder-se.
Lembramos aqui aos Srs. Sócios do Jardim, que é urgente tomar uma resolução qualquer. Se não se acham com força para continuar a Obra. Reunam-se e entreguem tudo à Câmara Municipal como foi determinado pelos estatutos”…
Foi o que veio a acontecer. A Câmara tomou conta do Jardim e meteu ombros aos melhoramentos de que estava carecido para a sua dignidade.
Mas tudo levou o seu tempo a avaliar pela deliberação tomada em sessão de 4 de Agosto de 1897 em que se lê:
“ ..tendo-se notado a afluência que vai tendo o Jardim Municipal que em breve vai ser aberto ao público, que se macadamizem as ruas e se faça a aquisição na Europa de um portão de ferro para a porta do mesmo.”
Em 24 de Dezembro de 1924, sendo o Alto Comissário o comandante Victor Hugo de Azeredo Coutinho comemorou-se o quarto centenário da morte de Vasco da Gama, e para assinalar esta data ergueu-se junto do portão principal, o Arco Manuelino.
A fonte que lá estava era idêntica a uma fonte Francesa, exactamente localizada no “Champs Elysèe”
As primeiras cinquenta fontes “Wallace” , iguais à que se ergue no Jardim Tunduru foram oferecidas à cidade de Paris em 1872 por “Sir” Robert Wallace, um grande filantropo Britânico. ”Sir” Robert encomendou o trabalho a um dos mais famosos escultores do seu tempo, Charles Lebourg e este, inspirando-se no Classicismo Grego, apresentou ao milionário o modelo com as cariátides suportando uma graciosa cúpula. Por esse motivo tais fontes são também conhecidas pelo “Templo das Quatro Deusas”.
“Sir” Robert assim que viu, tão entusiasmado ficou com o modelo que mandou que ele fosse imediatamente executado nas famosas fundições “Fonderies d’Art Du Val d’Osne”, de Paris.
A fonte existente no nosso Jardim Tunduru tem as seguintes inscrições:
”FONDERIES D”ART DU VAL D’OSNE – 58 Bd.VOLTAIRE – PARIS e “ CH. LEBOURG SC 1872
Constitui ainda um enigma por resolver como e quando a curiosa fonte teria vindo parar a então Lourenço Marques. Uma das mais prováveis hipóteses é que tenha sido oferecida à cidade pelo cidadão francês Eugéne François Tissot que foi concessionário do abastecimento de água à cidade.
Nos anos 50 e 60 do século passado, o Jardim Tunduru foi por várias vezes palco de muitas exposições e constituía um espaço de descanso e meditação para todos os citadinos.
Com a independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975 o espaço passou a chamar-se JARDIM TUNDURU. Actualmente, as gigantescas copas das árvores do jardim criam um oásis de sombra e tranquilidade para os trabalhadores e turistas que por ali passam. Foi desenhado em 1885 pelo famoso Arquitecto Paisagista britânico Thomas Honney, o qual chegou também a desenhar alguns jardins para o Sultão da Turquia e para o Rei da Grécia. Para os amantes da Botânica, muitas das árvores encontram-se classificadas com informação sobre as espécies e sua origem. É possível visitar no seu interior uma estufa, infelizmente em mau estado de conservação. Pode-se encontrar também os campos de ténis pertencentes à Federação de Ténis de Moçambique.
Fontes : As pedras que já não falam – Alfredo Pereira de Lima, Jojó e JOSE MARIA MESQUITELA
Adaptação de Edmundo Galiza Matos